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Fusão fria
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  O nevoeiro dissipa-se
Um ano após a conferência de imprensa que tinha atraído tanta atenção para Pons e Fleischmann, o processo científico finalmente tinha sido capaz de organizar e analisar a evidência respeitante à fusão a frio. Poucos grupos tinham encontrado apoio para a hipótese, e esses poucos tiveram resultados inconsistentes e não conseguiam reproduzir com fiabilidade as suas conclusões. A falta de evidência replicável foi um grande golpe para fusão a frio. As leis da natureza não têm favoritos. Se a fusão a frio funciona num laboratório sob um determinado conjunto de condições, seria de esperar que funcionasse outra vez noutros laboratórios nas mesmas condições. Assim, a falta de reprodutibilidade é um problema sério para qualquer descoberta científica, lançando dúvidas sobre a validade do resultado original e sugerindo que houve uma má interpretação do que se passava. No caso de Pons e Fleischmann, a falta de reprodutibilidade indicou que o quer que fosse que tivessem inicialmente detetado, provavelmente não era fusão a frio. Esta interpretação também é apoiada pelo facto de que cientistas independentes não encontrarem qualquer evidência de que as próprias células de Pons e Fleischmann tivessem realmente produzido fusão. À luz de todas estas evidências, a maioria dos cientistas consideram os resultados de Pons e Fleischmann como um erro experimental.

Capa da revista Time
Um erro como este, normalmente, é detetado antes de causar um alvoroço tão grande na comunidade científica. No entanto, no caso da fusão a frio, as verificações inerentes ao processo da ciência foram enfraquecidas quando Pons, Fleischmann, e outros, apanhados na excitação, romperam com as normas de boa conduta científica. Embora o processo da ciência seja resistente a um único, ou mesmo alguns, desvios das boas práticas, a convergência de várias infrações pode dificultar o processo. O editor da revista, que permitiu que o artigo original fosse publicado com uma revisão por pares mínima, não seguiu as normas que a ciência estabelece para essas publicações. Pons e Fleischmann retiveram detalhes experimentais da comunidade e tentaram evitar que as suas ideias fossem testadas. Eles e os outros cientistas que "reproduziram" a fusão a frio, para depois retirar os seus resultados, não conseguiram realizar testes adequados para avaliar as suas ideias. E, claro, o comportamento de Pons durante a experiência de hélio, assim como o acordo de publicação quebrado com Jones, roçou a desonestidade. É importante notar que, mesmo com esse tipo de comportamentos não-científicos, o processo da ciência ainda funcionou. No espaço de um ano, a comunidade científica tinha investigado as alegações de Pons e Fleischmann e chegado ao consenso de que o que tinha sido observado não era fusão a frio. Mesmo assim, ainda houve um preço a pagar por esta conduta: tempo, energia, e dinheiros públicos ultrapassando os 100 milhões de dólares foram desperdiçados na fusão a frio.

Pons and Fleischmann quebraram todas as regras da boa conduta científica.

Pons e Fleischmann causaram alguns danos difíceis de quantificar. Talvez o mais preocupante é o efeito que este desastre teve sobre a perceção pública da ciência. As declarações pouco claras de Pons e Fleischmann na conferência de imprensa, que enfatizavam apenas os benefícios futuros da fusão a frio, e não a fase inicial de investigação, contribuíram para a mediatização nos meios de comunicação social, e aumentaram as expetativas da sociedade, de forma injustificada. Essas expetativas não satisfeitas, juntamente com acusações de fraude e desonestidade, fragilizam a confiança do público na ciência. Porque a ciência está tão profundamente interligada com a comunidade em geral, a má conduta científica tem implicações muito além do grupo de físicos e químicos que estudam a fusão a frio.

Apesar de tudo isso, alguns cientistas continuam a investigar a possibilidade de fusão a frio. A ciência não desiste de ideias que têm mérito, mesmo quando sofrem recuos. Todo o conhecimento científico é, afinal, tentativo. Assim, embora não haja qualquer razão para pensar que o que Pons e Fleischmann observaram era a fusão a frio, alguns cientistas (embora uma pequena minoria da comunidade da física) continuam a investigar se a fusão a frio é possível ou não. Mas para convencer o resto da comunidade física, eles precisam encontrar muitas linhas de evidência sólidas para apoiar os seus pontos de vista.
 

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Relatos populares e históricos:

  • Huizenga, J. 1993. Cold Fusion: The Scientific Fiasco of the Century. New York: University of Rochester Press.
  • Taubes, G. 1993. Bad Science: The Short Life and Weird Times of Cold Fusion. New York: Random House.
Alguns trabalhos científicos:
  • Fleischmann, M., and S. Pons. 1989. Electrochemically induced nuclear fusion of deuterium. Journal of Electroanalytical Chemistry 261:301-308.
  • Jones, S.E., E.P. Palmer, J.B. Czirr, D.L. Decker, G.L. Jensen, J.M. Thorne, S.F. Taylor, and J. Rafelski. 1989. Observation of cold nuclear fusion in condensed matter. Nature 388:737-740.

 




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