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  Testes imparciais na medicina: Ajudando doentes com Alzheimer
Uma folha de Ginkgo biloba

Uma folha de Ginkgo biloba.
 
A planta Ginkgo biloba tem sido usada na medicina tradicional há milhares de anos. O médico e investigador Pierre Le Bars e os seus colegas1 queriam descobrir se Ginkgo pode ser usada com segurança para tratar os sintomas de demência causada pela doença de Alzheimer ou de múltiplos enfartes. Aqui está o teste que eles projetaram para ajudar a responder à sua pergunta:
  • Comparando resultados. Le Bars e os seus colegas criaram uma experiência em que um grupo de pacientes com demência recebeu extrato de Ginkgo (o grupo experimental), e outro (o grupo de controlo) não. Os investigadores comparararam então sintomas de demência nos dois grupos ao longo das 52 semanas seguintes do tratamento.

  • O estudo de Le Bars usou um placebo para ajudar a controlar variáveis

    O estudo de Le Bars usou um placebo — pílulas contendo ingredientes inativos — para ajudar a controlar variáveis.
     
    Controlando variáveis. Para tentar excluir outras diferenças que pudessem influenciar os sintomas de demência, apenas pacientes com demência sem outros graves problemas de saúde foram convidados a participar do estudo. Os investigadores avaliaram os sintomas de demência de todos os participantes da mesma forma e aproximadamente ao mesmo tempo, e eles garantiram que todos os participantes no grupo experimental receberam a mesma dose de extrato de Ginkgo. O estudo teve como objetivo ter como única diferença consistente entre os dois grupos se os pacientes recebiam ou não extrato de Ginkgo — mas em muita pesquisa médica, isto é um problema. Se os pacientes sabem que estão a receber um tratamento especial, apenas este conhecimento pode afetar os seus sintomas, comportamento, e possivelmente até mesmo o decorrer de uma doença. Para contornar este problema, Le Bars e os seus colegas usaram um placebo — neste caso, comprimidos contendo ingredientes inativos. O grupo de controlo recebeu o placebo e o grupo experimental recebeu o extrato de Ginkgo — de modo a que todos os participantes tivessem a mesma experiência de receber um tratamento e nenhum soubesse se estava ou não a receber o Ginkgo.

  • Evitando tendências e preconceitos. O viés — julgamentos tendenciosos e preconceitos — pode esgueirar-se em estudos médicos de várias maneiras. Um médico ou investigador da área médica que sabe que um paciente está a receber um fármaco experimental pode tratar ou avaliar o paciente de forma diferente, mesmo sem o notar. Para evitar essas distorções, Le Bars usou uma abordagem comum: um projeto experimental em dupla ocultação. Isto significa que os pacientes não sabem se estão a receber o tratamento experimental — aqui conseguido proporcionando um placebo a um grupo de doentes — e que os investigadores não sabem quais pacientes receberam o tratamento experimental, até o estudo estar terminado e os dados terem sido recolhidos. Num estudo em dupla ocultação, tanto os investigadores como os participantes são "cegos" no que diz respeito ao tratamento experimental. Distúrbios como a demência adicionam outro desafio, pois os seus sintomas são difíceis de avaliar objetivamente. Como é que se comparam pacientes com sintomas que vão desde alterações de humor, a problemas de linguagem, e a perda de memória? Se os investigadores simplesmente observassem as suas impressões sobre a gravidade dos sintomas, seria fácil ocorrer viés. Para aumentar a imparcialidade da avaliação, Le Bars e os seus colegas mediram os sintomas dos pacientes, utilizando diversas escalas predeterminadas — testes padronizados de demência que dependem de tarefas tais como ver quantas palavras numa lista de dez é que um paciente consegue recordar. Estas formas padronizadas de sintomas de medição, combinadas com um projeto de estudo em dupla ocultação, ajudou a reduzir a influência da parcialidade e efeitos tendenciosos na experiência.

  • Distinguindo acaso de diferenças reais. Para ajudar a assegurar que as diferenças entre os grupos experimentais e de controlo foram realmente devidas ao tratamento de Ginkgo e não a fatores aleatórios, o estudo incluiu um grande número de participantes (309) e utilizou testes estatísticos para avaliar a importância da diferença entre os grupos.
No final de tudo isto, a experiência de Le Bars sugeriu que:
  1. O extrato de Ginkgo é seguro. Os participantes no grupo experimental não eram mais propensos a ter efeitos secundários adversos ou novos problemas de saúde do que aqueles no grupo de controle.

  2. O extrato de Ginkgo pode ajudar a melhorar os sintomas de demência em pessoas com doença de Alzheimer ou demência já existente. Os participantes no grupo experimental apresentaram menos sintomas relacionados com demência do que os no grupo de controlo. Uma vez que a única diferença consistente conhecida entre os grupos foi os pacientes terem ou não recebido o Ginkgo, os pesquisadores concluíram que a melhoria nos sintomas foi causada pelo extrato.

O estudo de Le Bars indicou que os pacientes que tomaram o extrato de Ginkgo apresentaram melhoras.

O estudo de Le Bars indicou que os pacientes que tomaram o extrato de Ginkgo apresentaram melhoras.

Claro, a investigação sobre este tema continuou. Estudos mais recentes têm lançado algumas dúvidas sobre estas conclusões. E investigação adicional sobre um tema um pouco diferente — se tomar suplementos de ginkgo pode prevenir o aparecimento de demência ou Alzheimer — não encontrou benefício do extrato. Como pode isto ser possível? Os resultados de estudos científicos dependem criticamente sobre os detalhes da forma como os testes são projetados, mas também podem ser influenciados por factores aleatórios que não podem ser controlados. À medida que reunimos evidência, adicional, a ciência aproxima-se de hipóteses e conclusões mais precisas.

Embora os cientistas muitas vezes tenham equipamentos complexos e recursos técnicos à sua disposição quando testam formalmente as suas hipóteses e teorias, a lógica utilizada ao projetar um teste imparcial é a mesma — independentemente de o teste ter como objetivo fazer biscoitos ou tratar uma doença. As mesmas considerações até entram em jogo em estudos observacionais que não envolvem qualquer tipo de manipulação experimental.

resumo
  • Projetar um teste imparcial de uma ideia - na ciência formal ou na vida quotidiana — significa decidir quais os resultados que você irá comparar, controlar variáveis, evitar viés, e descobrir uma maneira de distinguir entre diferenças aleatórias e significativas.

  • As experiências são frequentemente concebidas de tal forma que um grupo ou amostra (o grupo experimental) recebe um determinado tratamento, enquanto que o outro (grupo de controlo) não.

  • As variáveis controladas são aqueles fatores que são mantidos constantes ao longo de um ensaio, de modo a que o efeito de uma outra variável possa ser melhor observado.

  • Um placebo é um tratamento sem valor terapêutico, muitas vezes utilizado em estudos médicos para assegurar que os participantes não sabem se estão ou não a receber o tratamento experimental.

  • Projetos experimentais em dupla ocultação ajudam a evitar viés, garantindo que nem os sujeitos de uma experiência nem os investigadores podem ter as suas ações ou decisões influenciadas com base no conhecimento de quais sujeitos é que estão a receber o tratamento.



1Le Bars, P.L., M.M. Katz, N. Berman, T.M. Itil, A.M. Freedman, and A.F. Schatzberg. 1997. A placebo-controlled, double-blind, randomized trial of an extract of Ginkgo biloba for dementia. North American EGb Study Group. The Journal of the American Medical Association 278(16):1327-1332.

Foto da folha de Ginkgo © 2005 Louis-M. Landry; foto de comprimidos do photostream do flickr de Carter Comics e usado ao abrigo desta licença Creative Commons


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