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Neste site, usamos um guia prático para ter uma ideia básica do que é a ciência, e um fluxograma flexível para descrever como a ciência funciona. Na maioria dos casos correntes, isso dá-nos uma imagem razoavelmente completa do que a ciência é e não é. No entanto, há todo um campo de estudo académico rigoroso que lida especificamente com o que a ciência é, como funciona, e a lógica através da qual podemos construir conhecimento científico. Este ramo da filosofia é chamado filosofia da ciência. Muitas das ideias que apresentamos neste site são uma síntese aproximada de ideias, antigas e novas, vindas da filosofia da ciência.
Apesar do seu nome simples, o campo é complexo e continua a ser uma área de investigação atual. Filósofos da ciência estudam ativamente questões como:
- O que é uma lei da natureza? Há alguma em ciências não-físicas, como a biologia e a psicologia?
- Que tipo de dados pode ser usado para distinguir entre as verdadeiras causas e regularidades acidentais?
- Quanta evidência e que tipos de evidência precisamos ter antes de aceitar hipóteses?
- Por que é que os cientistas continuam a confiar em modelos e teorias que sabem ser pelo menos parcialmente incorretos (como a física de Newton)?
Embora possam parecer elementares, estas questões são na realidade muito difíceis de responder de forma satisfatória. As opiniões variam muito dentro do campo (e, ocasionalmente, vão contra as opiniões dos próprios cientistas que usam o seu tempo mais a fazer ciência do que a analisá-la abstratamente). Apesar dessa diversidade de opinião, os filósofos da ciência em grande parte concordam num ponto: não há uma maneira única e simples de definir a ciência!
Embora o campo seja altamente especializado, algumas ideias chave generalizaram-se. Aqui temos uma explicação curta de apenas alguns conceitos associados à filosofia da ciência, que você pode (ou não) já ter ouvido.
- Epistemologia ramo da filosofia que lida com o que é o conhecimento, como aceitamos algumas coisas como verdadeiras, e como podemos justificar essa aceitação.
- Empiricismo conjunto de abordagens filosóficas para a construção do conhecimento que enfatizam a importância da evidência observável provinda do mundo natural.
- Indução método de raciocínio em que uma generalização é defendida como verdadeira com base em exemplos individuais que parecem estar conformes à generalização. Por exemplo, depois de observar que as árvores, bactérias, anémonas do mar, moscas, e os seres humanos possuem células, pode-se inferir por indução que todos os organismos possuem células.
- Dedução método de raciocínio em que a conclusão é alcançada logicamente a partir de dadas premissas. Por exemplo, se conhecemos as posições relativas atuais da lua, do sol e da Terra, e se sabemos exatamente como se movem uns em relação aos outros, podemos deduzir a data e o local do próximo eclipse solar.
- Parcimónia/ navalha de Occam ideia de que, sendo todas as outras condições iguais, devemos preferir uma explicação mais simples a uma mais complexa.
- Problema da demarcação o problema de distinguir com segurança a ciência da não-ciência. Filósofos modernos da ciência concordam em termos gerais que não existe um critério único e simples que possa ser usado para demarcar as fronteiras da ciência.
- Falsificação o ponto de vista, associado com o filósofo Karl Popper, que a evidência só pode ser usada para descartar ideias, e não para as apoiar. Popper propôs que as ideias científicas só podem ser testadas através de falsificação, nunca através da procura de evidência corroborante.
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Brevemente! Para saber mais sobre esta ideia e uma visão mais atualizada, explore a nossa página sobre Falsificação.
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- Mudanças de paradigma e revoluções científicas uma visão da ciência, associada com o filósofo Thomas Kuhn, que sugere que a história da ciência pode ser dividida em períodos de ciência normal (quando os cientistas incrementam, elaboram e trabalham com uma teoria científica central, geralmente aceite) e breves períodos de ciência revolucionária. Kuhn afirmou que durante os períodos de ciência revolucionária, anomalias refutando a teoria aceite acumularam-se a tal ponto que a teoria anterior é rejeitada e uma nova é construída para tomar o seu lugar, numa assim chamada "mudança de paradigma".
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Brevemente! Para mais detalhes, explore a nossa página sobre Mudanças de paradigma e revoluções científicas.
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Quem é quem na filosofia da ciência
Se estiver interessado em saber mais sobre a filosofia da ciência, pode querer começar a sua investigação com alguns dos grandes nomes no campo:
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Aristóteles
René Descartes
Carl Hempel
Evelyn Fox Keller
Nancy Cartwright |
Aristóteles (384-322 AC) Considerado por alguns como o fundador tanto da ciência como da filosofia da ciência. Escreveu extensivamente sobre os temas a que hoje chamamos física, astronomia, psicologia, biologia e química, bem como lógica, matemática e epistemologia.
Francis Bacon (1561-1626) Promoveu um método científico em que os cientistas reúnem muitos factos a partir de observações e experiências, para de seguida fazer inferências indutivas sobre os padrões da natureza.
René Descartes (1596-1650) Matemático, cientista e filósofo que promoveu um método científico que enfatizou a dedução a partir de primeiros princípios. Essas ideias, bem como a sua matemática, influenciaram Newton e outras figuras da Revolução Científica.
Piere Duhem (1861-1916) Físico e filósofo que defendeu uma forma extrema de empirismo. Ele argumentou que não podemos tirar conclusões sobre a existência de entidades não observáveis conjeturadas pelas nossas teorias, tais como átomos e moléculas.
Carl Hempel (1905-1997) Desenvolveu teorias influentes sobre os conceitos de explicação científica e confirmação de teorias. Ele argumentou que um fenómeno fica "explicado" quando podemos ver que é a consequência lógica de uma lei da natureza. Ele defendia uma descrição hipotético-dedutiva da confirmação, semelhante à maneira com que nós caracterizamos "estabelecer um argumento científico" neste site.
Karl Popper (1924-1994) Argumentou que a falsificabilidade é o sinal distintivo das teorias científicas e também a metodologia adequada para os cientistas usarem. Ele acreditava que os cientistas devem sempre considerar as suas teorias com um olhar cético, procurando todas as oportunidades para tentar falsificá-las.
Thomas Kuhn (1922-1996) Historiador e filósofo que argumentou que a imagem da ciência desenvolvida pelos empiristas lógicos, como Popper, não se assemelha à história da ciência. Kuhn estabeleceu a famosa distinção entre ciência normal, onde os cientistas resolvem quebra-cabeças dentro de um quadro ou paradigma particular, e a ciência revolucionária, quando o paradigma é substituído.
Paul Feyerabend (1924-1994) Um rebelde dentro da filosofia da ciência. Ele argumentou que não há nenhum método científico, ou, nas suas palavras, "vale tudo". Os cientistas fazem o que precisam de fazer sem consideração por padrões de racionalidade, de modo a obter novas ideias e persuadir os outros a aceitá-las.
Evelyn Fox Keller (1936-) Física, historiadora e uma das pioneiras da filosofia feminista da ciência, tal como exemplificado no seu estudo de Barbara McClintock e sobre a história da genética no século XX.
Elliott Sober Conhecido pelo seu trabalho sobre parcimónia e sobre as bases conceptuais da biologia evolutiva. Ele deu também um importante contributo para a teoria biológica da seleção de grupo.
Nancy Cartwright (1944-) Filósofa da física conhecida pela sua afirmação de que as leis da física "mentem" isto é, que as leis da física se aplicam apenas em circunstâncias altamente idealizados. Ela também trabalhou em causação, interpretações da probabilidade e mecânica quântica, e nas fundações metafísicas da ciência moderna. |
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