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Em 2005, o Conselho Estadual de Educação do Kansas aprovou uma alteração aparentemente menor nas normas de ensino de ciências do estado. Até aquele momento, a ciência tinha sido definida nas normas como "a atividade humana de procurar explicações naturais para o que observamos no mundo à nossa volta." Após a mudança, a definição para a ciência passou a ser "um método sistemático de investigação continuada que usa a observação, teste de hipóteses, medição, experimentação, argumentação lógica e construção de teorias para levar a explicações mais adequadas de fenómenos naturais." Cientistas, professores de ciências, e muitos membros do público em geral opuseram-se à mudança. Como resultado dos seus protestos e depois da eleição de um novo Conselho Estadual de Educação em 2007 a definição original foi reposta. Mas afinal qual é o problema? Afinal, a atividade de buscar explicações naturais tinha-se tornado na atividade de buscar explicações mais adequadas de fenómenos naturais qual é a diferença? É enorme, como vamos ver.
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À esquerda, a definição de "ciência" adotada pelo Conselho Estadual de Educação do Kansas antes de 2005 e após 2007. À direita, a definição adotada em 2005, que foi posteriormente rejeitada. A parte do texto que causou o problema está realçada. |
A questão fundamental é que a definição original limitava os tipos de causas que a ciência pode propor e investigar a causas naturais, enfatizando que a ciência não pode estudar explicações sobrenaturais. Para ver por que é que isso é importante, considere a ideia fantasiosa de que a gravidade seria causada por gnomos sobrenaturais indetetáveis, que ligam tudo no universo com pastilha elástica invisível. Isso pode ou não ser verdade, mas no âmbito da sua definição comum, a ciência não pode estudar essa explicação, porque é sobrenatural. A definição aprovada em 2005, no entanto, permite que qualquer tipo de explicação, incluindo as mágicas e sobrenaturais, possa ser usada no campo da ciência, desde que de alguma forma lide com fenómenos naturais. De acordo com a definição alterada, a explicação para a gravidade baseada em gnomos poderia ser incluída nas aulas de ciência! Embora nós estejamos obviamente a brincar acerca dos gnomos, a questão é séria. A mudança na definição teria aberto as portas das salas de aula do Kansas a qualquer grupo interessado em transmitir pontos de vista de causalidade sobrenatural a alunos de escolas públicas, e a transmitir essas opiniões como sendo ciência legítima.
A ciência moderna não lida com explicações sobrenaturais, porque estas não são cientificamente testáveis por outras palavras, não há nenhuma maneira de obter evidência que nos ajude a determinar se as explicações são ou não precisas. Ao contrário das explicações sobrenaturais, as explicações naturais geram expetativas específicas que podemos comparar com evidência obtida do mundo natural, de modo a determinar se é provável que a explicação seja precisa. Por exemplo, consideremos a ideia de que a aceleração de um corpo devido à gravidade aumenta à medida que a massa do objeto aumenta. Esta explicação para um aspeto da atração gravitacional gera expetativas testáveis específicas. Se a ideia fosse precisa, uma bola de basebol e uma bola de chumbo do mesmo tamanho mas muito mais pesada cairiam a velocidades diferentes, com a bola de chumbo sofrendo uma aceleração maior. Podemos realizar este teste, e quando o fazemos, descobrimos que a expetativa (queda a taxas diferentes) não coincide com as nossas observações, fornecendo evidência de que a ideia pode estar incorreta. Agora, considere a nossa rebuscada explicação sobrenatural para a gravidade gnomos com pastilha elástica. Será que eles fornecem a mesma força de chiclete a uma bola de basebol e a uma bola de chumbo? Será que eles fornecem força de chiclete extra à bola de chumbo, fazendo-a cair mais rápido? Quem sabe o que os seres sobrenaturais escolheriam fazer com as suas pastilhas elásticas mágicas? Independentemente do que observamos quando deixamos cair as duas bolas, podemos sempre imaginar uma maneira de atribuir o resultado à ação dos gnomos. Explicações sobrenaturais, pela sua própria natureza, não podem ser testadas com os métodos da ciência. Isso não quer dizer que estejam erradas; apenas que estão fora do domínio que a ciência pode legitimamente investigar. Qualquer esforço para redefinir a ciência de forma a incluir explicações sobrenaturais é contra ao objetivo principal da ciência: a construção de conhecimento fiável sobre o mundo natural com base em explicações naturais. |
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