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  Quem paga a ciência?
Hoje em dia, todos nós pagamos. A maioria da investigação científica é financiada por fundos governamentais (nos EUA por ex. pela National Science Foundation, o National Institutes of Health, etc, e, na Europa, pelos governos nacionais e pela União Europeia), por empresas que fazem investigação e desenvolvimento e por fundações sem fins lucrativos (nos EUA, por ex. a Breast Cancer Research Foundation ou a David and Lucile Packard Foundation, em Portugal por ex. a Fundação Gulbenkian e a Fundação Champalimaud). Como parte da sociedade, nós colhemos os frutos dessa ciência na forma de inovação tecnológica e conhecimento avançado, mas também ajudamos a pagar esse trabalho. Você apoia a ciência todos os dias, indiretamente, através dos impostos que paga, produtos e serviços que compra a empresas, e doações que eventualmente faça a instituições de solidariedade social. Algo tão simples como comprar uma caixa de aspirina pode ajudar a pagar a investigação sobre esclerose múltipla.

Atá algo tão simples como comprar uma caixa de aspirina pode ajudar a pagar a investigação sobre esclerose múltipla

Atá algo tão simples como comprar uma caixa de aspirina pode ajudar a pagar a investigação sobre esclerose múltipla.

O financiamento da ciência mudou ao longo do tempo. Historicamente, a ciência foi muitas vezes financiada por mecenas privados, por instituições de caráter religioso, ou simplesmente pelo próprio cientista. O trabalho de Galileu, nos séculos XVI e XVII, por exemplo, foi apoiado principalmente por indivíduos ricos, incluindo o Papa. Por outro lado, a viagem de Darwin no Beagle, no século XIX, foi financiada pelo governo britânico — o navio estava a testar relógios e a fazer mapas para a marinha — e fundos privados da família de Darwin financiaram o resto do seu trabalho científico. Hoje, os investigadores costumam ser financiados por uma combinação de agências governamentais, instituições e fundações. Por exemplo, um estudo de 2007 sobre o movimento de carbono nos oceanos foi financiado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA, o Departamento de Energia dos EUA, o Centro de Investigação Cooperativa Australiano, e a Divisão Australiana da Antártica.1 Há também investigação que é financiada por empresas privadas - como um estudo recente comparando o efeito de diferentes fármacos administrados após um enfarte, financiado por uma empresa farmacêutica.2 Estes apoios por empresas são comuns nalguns campos. Nos EUA, quase 75% dos ensaios clínicos em medicina são pagos por companhias privadas.3 E, claro, alguns investigadores ainda hoje podem financiar estudos em pequena escala com os seus próprios recursos. Fazer investigação com um ciclotrão é um hobby pessoal que a maior parte de nós não se poderia dar ao luxo de ter, mas observadores de aves, mergulhadores, caçadores de rochas, e outros podem fazer uma pesquisa real com um orçamento limitado.

A construção do LHC custou milhares de milhões de euros. Por outro lado, estudar aves pode custar apenas alguns cêntimos

Uma seçcão dos magnetes do Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo. A construção do LHC custou milhares de milhões de euros. Por outro lado, estudar aves pode custar apenas alguns cêntimos.

Um mundo imperfeito
Num mundo perfeito, o dinheiro não teria importância — todos os estudos científicos, independentemente da fonte de financiamento, seriam completamente objetivos. Mas é claro que, no mundo real, o financiamento pode introduzir distorções - por exemplo, quando o financiador tem um interesse no resultado do estudo. Uma empresa farmacêutica que paga um estudo de um novo medicamento para a depressão, por exemplo, pode influenciar o projeto do estudo ou a interpretação dos resultados de formas que sutilmente favorecem a droga que eles gostariam de introduzir no mercado. Existe evidência de que distorções deste tipo ocorrem ocasionalmente. Pesquisa de drogas patrocinada pela indústria farmacêutica tem maior probabilidade de favorecer a droga em consideração que estudos patrocinados por subsídios do governo ou por instituições sem fins lucrativos.4 Da mesma forma, pesquisas sobre nutrição patrocinadas pela indústria alimentar tem maior probabilidade de favorecer o alimento em consideração do que pesquisa financiada de forma independente.5

Então o que devemos pensar sobre tudo isto? Devemos ignorar qualquer investigação financiada por empresas ou grupos de interesses especiais? Certamente que não. Estes grupos fornecem financiamento de valor inestimável para a investigação científica. Além disso, a ciência tem muitos mecanismos para encontrar casos de pesquisas levadas a cabo de forma menos objetiva com o intuito de favorecer certo tipo de resultados. Em última análise, resultados falaciosos serão corrigidos à medida que a ciência avança, no entanto, esse processo leva tempo. Enquanto isso, vale a pena examinar estudos financiados pela indústria ou por grupos de interesses especiais com um cuidado acrescido. Portanto, por exemplo, não ignore um estudo sobre a segurança de telemóveis apenas porque foi financiado por um fabricante de telemóveis — mas faça algumas perguntas cuidadosas sobre a investigação antes de a aceitar. Os resultados são consistentes com outros estudos financiados de forma independente? Será que o estudo foi projetado de forma imparcial? O que têm outros cientistas a dizer sobre esta pesquisa? Um pouco de escrutínio pode ajudar muito a identificar distorções associadas com a fonte de financiamento.

resumo
  • Muita investigação científica é financiada pelo governo, por empresas privadas, e por organizações sem fins lucrativos.

  • Embora a fonte de financiamento possa, ocasionalmente, introduzir distorções na investigação científica, a ciência tem mecanismos para detetar essas distorções.


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1Buesseler, K.O., C.H. Lamborg, P.W. Boyd, P.J. Lam, T.W. Trull, R.R. Bidigare, J.K.B. Bishop, K.L. Casciotti, F. Dehairs, M. Elskens, M. Honda, D.M. Karl, D.A. Siegel, M.W. Silver, D.K. Steinberg, J. Valdes, B. Van Mooy, and S. Wilson. 2007. Revisiting carbon flux through the ocean's twilight zone. Science 316:567.
2Mebazaa, A., M.S. Nieminen, M. Packer, A. Cohen-Solal, F.X. Kleber, S.J. Pocock, R. Thakkar, R.J. Padley, P. Poder, and M. Kivikko. 2007. Levosimendan vs dobutamine for patients with acute decompensated heart failure: The SURVIVE randomized trial. Journal of the American Medical Association 297:1883-1891.
3Bodenheimer, T. 2000. Uneasy alliance: Clinical investigators and the pharmaceutical industry. New England Journal of Medicine 342:1539-1544.
4Als-nielson, B., W. Chen, C. Gluud, and L.L. Kjaergard. 2003. Association of funding and conclusions in randomized drug trails: A reflection of treatment effect or adverse events? Journal of the American Medical Association 290:921-928.
5Esta investigação focou-se em bebidas não alcoólicas, sumos, e leite. Lesser, L.I., C.B. Ebbeling, M. Goozner, D. Wypij, and D.S. Ludwig. 2007. Relationship between funding source and conclusion among nutrition-related scientific articles. Public Library of Science Medicine 4:41-46.

Fotos de medicamentos do photostream de flickrcrazytales562 usadas ao abrigo desta licença Creative Commons; foto do laboratório médico fornecida pelo National Institutes of Health (NIH); foto do LHC photo © CERN; foto do observador de pássaros fornecida pelo US Army Corps of Engineers


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