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Watson e Crick publicaram a estrutura do ADN por eles proposta no dia 25 Abril de 1953, no jornal Nature.3 Na mesma edição, um grupo de investigadores que incluía Wilkins, Franklin e Gosling, apresentaram a evidência que tinham coligido, a qual apoiava a hipótese4 da dupla cadeia em hélice de Watson e Crick. Deste modo, a evidência e a hipótese relativas à estrutura do ADN passaram a fazer parte da literatura científica, ficando à disposição de outros cientistas.
Mas nem tudo o que estava publicado nesses artigos veio de fontes livremente disponíveis. Os cientistas costumam usar os dados e ideias de outros, mas espera-se que dêm crédito às suas fontes. Isto permite à ciência crescer com base em ideias existentes, ao mesmo tempo que premeia cientistas individuais pelas suas contribuições. O trabalho de Crick e Watson deu crédito a grande parte da evidência que tinham recolhido durante a investigação da estrutura do ADN. No entanto, os dados que inspiraram algumas das suas ideias-chave tinham vindo do relatório de Franklin de 1952 para o Conselho de Pesquisa Médica que deveria ser informação confidencial. Franklin nunca deu a Watson e Crick permissão para usar esse trabalho, e no seu artigo o registo científico desta descoberta eles não dão crédito a Franklin por ter fornecido essa evidência, ou pela imagem B 51, que foi tão importante para a sua descoberta. Retrospetivamente, tanto Crick como Watson reconheceram a sua dívida. De acordo com Crick, "todo o trabalho experimental verdadeiramente relevante sobre os padrões de difração de raios X de ADN" veio do laboratório de Franklin, e Watson mais tarde afirmou que a sua descoberta não teria sido possível sem os dados recolhidos por Franklin.
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O não cumprimento da obrigação de dar crédito onde crédito é devido, principalmente quando se trata de evidência crucial, é considerada uma grave violação da ética científica. Tanto Crick como Watson tiveram carreiras científicas altamente bem-sucedidas, mas a questão de terem ou não terem agido de forma justa continuou a segui-los. Em entrevistas e aparições públicas, eram e são frequentemente questionados sobre suas escolhas e sobre o papel de Franklin na sua mais famosa descoberta, e tiveram de suportar o escrutínio e julgamento da comunidade científica.
É importante notar também que Franklin foi uma pioneira em termos de presença de mulheres nas ciências. Na época em que Franklin estava a trabalhar em ADN, menos de cinco por cento dos doutoramentos nas ciências físicas foram concedidos a mulheres.5 Franklin nunca relatou exemplos concretos de discriminação (além de não ser permitido comer com os seus colegas do sexo masculino na sala sénior comum), mas ela de facto preocupava-se com a possibilidade de o seu trabalho não ser levado a sério por causa do seu género. Embora não possamos saber com certeza, é certamente possível que a descoberta da estrutura do ADN e o reconhecimento subsequente tivessem acontecido de forma diferente, se o ambiente social para as mulheres cientistas fosse mais justo na época. |
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