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As observações de Margulis não eram novidade na ciência; muitos investigadores antes dela 1 tinham visto, ao microscópio, semelhanças surpreendentes entre mitocôndrias e bactérias. Margulis soube por um professor que alguns destes investigadores, nos anos 1880, tinham elaborado uma hipótese que explicava a razão pela qual as mitocôndrias e as bactérias eram tão semelhantes. Esta foi a primeira vez que Margulis ouviu falar acerca da hipótese "louca" que iria moldar a sua carreira e revolucionar a forma como os cientistas compreendem o modo de evolução das células complexas.
Em que consistia essa ideia "louca"? O professor de Margulis explicou que ao longo dos 80 anos anteriores alguns cientistas tinham proposto que as células eucarióticas tinham evoluído quando uma bactéria (um procariota) envolveu outra e as duas começaram a viver em conjunto. Ao longo de muitas gerações, e através de muitas e pequenas alterações, as células envolvidas evoluíram e tornaram-se organelos, como as mitocôndrias. De acordo com esta ideia, as mitocôndrias parecem-se e agem como bactérias porque já foram bactérias!
Esta relação ecológica é chamada de endossimbiose. "Endo" e "simbiose" vêm do grego e significam, respetivamente, "dentro" e "viver junto" endossimbiose significa, assim, um organismo a viver dentro de outro. Na época de Margulis, os cientistas já sabiam que muitos organismos tinham endossimbiontes como as térmitas, que dependem de micro-organismos nos seus intestinos para digerir a madeira mas ninguém pensou que esta relação podia evoluir para se tornar tão próxima ao ponto de os dois se tornarem num único organismo.
À esquerda, uma térmita ao lado do intestino retirado de outro individuo. O conteúdo do intestino observado ao microscópio (à direita), revela muitos simbiontes, incluindo protozoários (P) e algumas bactérias onduladas e em forma de espiral (indicadas por setas). |
Cada vez que a hipótese endossimbiótica era proposta, a maior parte da comunidade científica considerava-a demasiado rebuscada. Dois organismos diferentes juntarem-se para formar um único? Ridículo! Isso nunca teria resultado!
Para Margulis, a ideia não parecia "louca", mas, como estudante de doutoramento, não tinha muito tempo para ponderar sobre o assunto. Ela estava muito ocupada a pensar sobre genética e a trabalhar na sua investigação de doutoramento na Universidade de Berkeley. Como iremos ver, no entanto, a sua investigação e observações que fez sobre outro organelo, o cloroplasto, levá-la-iam de volta a esta ideia estranha. |
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