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  Cultura científica: Grandes expetativas
Enquanto nós pensamos tipicamente na cultura como sendo definida pela geografia ou etnia (por exemplo, a cultura americana, a cultura chinesa), o termo também se aplica às práticas, comportamentos e expetativas de pequenos grupos de pessoas - sejam eles um gangue de jovens que gostam de andar de skate ou os funcionários de uma importante empresa de consultoria. Embora inseridas na cultura mais ampla ao seu redor, tais subculturas têm os seus próprios conjuntos de regras não escritas para os seus membros interagirem uns com os outros, e os cientistas não são exceção. Na ciência, estas regras de bom comportamento são bastante gerais, mas são essenciais para a manutenção da qualidade da evidência e ideias científicas. A comunidade científica espera:

escrutínio rigoroso
Escrutínio rigoroso. Imagine que você entra em um quarto onde alguém está a falar para uma multidão de pessoas. Os membros da audiência estão a questionar o orador atentamente: "Você considerou … ? Mas e então … ? Por que é que você acha que … ?" Em muitas comunidades, tal intenso escrutínio seria um sinal de desconfiança no orador, mas na ciência, tal escrutínio é normalíssimo. Na verdade, muitas vezes significa que o orador falou sobre um aspeto importante que interessa o suficiente às pessoas para questionar e investigar mais. Na ciência, todas as ideias (especialmente as mais importantes!) devem enfrentar rigoroso escrutínio. A cultura da ciência não valoriza o dogma. Examinar, questionar e investigar ideias importantes ajuda a garantir que apenas ideias apoiadas por evidência e com base em raciocínio sólido são aceites pela comunidade.

É MESMO TUDO RELATIVO?

Os escritos de Albert Einstein sobre a relatividade especial e geral apresentam uma imagem nova do universo: o tempo poderia expandir e contrair, o espaço foi integrado com o tempo na nova entidade espaço-tempo, e a matéria poderia, teoricamente, ser reconstituída em forma de energia. Quando a relatividade geral foi proposta em 1916, as ideias eram estranhas para muitos e confusas para outros, mas definitivamente intrigantes — especialmente porque a teoria ajudou a compreender anomalias anteriormente inexplicáveis, como as aberrações na órbita de Mercúrio. Imediatamente depois e até aos dias de hoje, os cientistas continuam a escrutinar e a testar as ideias de Einstein, não porque eles pensam que a relatividade geral deve estar errada — mas porque tantos aspetos dessas ideias parecem estar certos! Para saber mais sobre como testar as ideias de Einstein, visite as nossas páginas sobre o tema:

Iluminando a relatividade: Experiências com as estrelas
Testes imparciais na física: Examinando eclipses

honestidade, integridade e objetividade
Honestidade, integridade e objetividade. O objetivo da ciência é desvendar o funcionamento real do mundo natural, e isso exige honestidade. Você não pode chegar à verdade exagerando resultados, falsificando números, apresentando os dados seletivamente, ou interpretando evidência de maneira tendenciosa. Por isso, os cientistas esperam que os outros cientistas ajam com honestidade e integridade, e tratam qualquer violação dessa expetativa de forma muito séria.

A MELHOR POLÍTICA

Geoffrey Chang
Geoffrey Chang
Na ciência, a honestidade é realmente a melhor política — mesmo que isso signifique divulgar um deslize. Geoffrey Chang, professor do Instituto de Investigação Scripps, fez uma carreira de sucesso trabalhando no desvendar das estruturas físicas das proteínas utilizadas nas membranas celulares. O seu trabalho foi publicado nas principais revistas e citado por outros cientistas muitas vezes. Então, em 2006, ele descobriu um erro. Alertado por resultados contraditórios de outros investigadores, Chang descobriu que, nos últimos cinco anos, tinha vindo a analisar os seus dados com um programa de computador defeituoso, levando a resultados incorretos. Então, o que é que ele fez? Exatamente o que a cultura da ciência espera dele: ele publicou cartas retraindo o seu trabalho anterior, ofereceu um pedido de desculpas e, em seguida, começou o trabalho de reanalisar os seus dados, de modo a corrigir os seus resultados.

dar crédito onde o crédito é devido
Na ciência, o crédito importa. Um artigo numa revista popular ou num jornal raramente reconhece todas as fontes dos seus argumentos, os livros que o autor leu, ou todas as entrevistas realizadas. A ciência, por outro lado, é escrupulosa sobre dar crédito onde o crédito é devido. Artigos científicos fornecem sempre uma lista de citações, creditando outros cientistas pelas ideias, técnicas e estudos que foram desenvolvidos ou utilizados pela investigação relatada. Este sistema de referência dá crédito a quem merece, mas também cria uma espécie de rasto de papel que ajuda outros cientistas a avaliar melhor o novo estudo, e a ver como ele se encaixa na pesquisa anterior. Ao fornecer uma lista de referências, um autor convida outros cientistas a verem por si mesmos se as ideias que o autor cita são apoiadas por evidência, se os pressupostos que ele ou ela fizeram são justificados, e se as técnicas descritas por outros foram devidamente implementadas.

AJUSTANDO AS SUAS CITAÇÕES

O número de citações que um artigo recebe pode ajudar a indicar quão influente é que o artigo foi, já que a pesquisa importante influencia o modo como outros cientistas pensam sobre um tema, e será citada várias vezes noutros artigos. Por exemplo, o artigo de 1974 que primeiro colocou a hipótese de que os clorofluorocarbonetos destroem a camada de ozono foi citado mais de 1.700 vezes! Comparado com muitos outros artigos publicados no mesmo ano (por exemplo, um artigo sobre o valor nutritivo da proteína extraída do coco, que recebeu cinco citações), é um número impressionante! Para aprender mais, leia a história por detrás do artigo de 1974 sobre o ozono:

O buraco do ozono: os malefícios dos atomizadores

adesão a diretrizes éticas
Adesão a diretrizes éticas. A ciência é flexível e aberta a novas ideias, mas não é um vale tudo anárquico. Muitas leis aplicam-se à ciência, e, em muitos casos, os cientistas construíram as suas próprias diretrizes ainda mais rigorosas, de modo a garantir que o trabalho científico é de alta qualidade, é realizado de forma ética, e beneficia a sociedade. Por exemplo, as revistas científicas mantêm um elaborado conjunto de regras cobrindo tudo desde cientistas com uma participação financeira nos seus próprios estudos, até a ameaças de biossegurança que possam resultar da publicação de um artigo, ao tratamento e uso de animais na investigação, a como os participantes humanos num estudo devem ser tratados. Não cumprir essas regras torna difícil (ou impossível) conseguir que a sua investigação seja publicada. As agências de financiamento mantêm um conjunto similar de diretrizes que devem ser seguidas se um cientista espera conseguir fundos de investigação da agência. E, claro, as organizações científicas também entram na história. Por exemplo, o National Academies (um grupo de organizações científicas de topo nos EUA) reuniu mais de 40 cientistas para elaborar um conjunto de diretrizes que equilibram as preocupações éticas sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias com os seus potenciais benefícios. Os membros da comunidade científica devem obedecer tais diretrizes.

MANTENDO OS TESTES SOB CONTROLO

Um investigador do cancro descobre uma substância química que ela acha que poderia ajudar a tratar a leucemia. Quais deveriam ser os seus próximos passos? Você pode imaginar que seria recrutar pacientes com leucemia para iniciar os testes — mas, na verdade, começar testes em humanos neste momento violaria muitos regulamentos nacionais e códigos internacionais. A fim de proteger os participantes, os cientistas elaboraram um rigoroso conjunto de diretrizes que descrevem quando é que os seres humanos podem participar em experiências, e como é que eles devem ser tratados. Essas diretrizes, conhecidas como protocolos de experiências com humanos ou políticas para a proteção de seres humanos, abrangem tudo, desde a quantidade de testes que uma droga deve passar antes de chegar a pacientes humanos, a quais informações os participantes devem ter antes de entrarem num teste, a que tipo de documentação os participantes do estudo devem assinar. E estes regulamentos aplicam-se a qualquer tipo de investigação científica envolvendo seres humanos — se é o teste de uma nova droga, monitorizar o efeito do exercício sobre os níveis de colesterol, ou apenas estudar os fatores que afetam a capacidade de leitura dos alunos do quarto ano. Tais orientações (que variam ligeiramente de país para país) visam garantir que o interesse científico no resultado de um teste nunca supera os riscos para o bem-estar dos participantes humanos. Portanto, antes de um potencial medicamento para leucemia ser de todo testado em pacientes humanos, ele deve primeiro ser testado tanto com pratos Petri como com animais (aderindo a um outro conjunto de diretrizes éticas no caso da pesquisa animal), para mostrar que a droga é segura e tem potencial acima e além de outros tratamentos já disponíveis. Para saber mais, visite:

Recursos do Instituto Nacional de Saúde dos EUA sobre a proteção de sujeitos humanos (em inglês)

Aqui vimos que a cultura da ciência espera certos tipos de conduta dos seus membros da comunidade. Para descobrir o que acontece quando um cientista não corresponde a essas expetativas, continue a ler …

resumo
  • Os cientistas esperam uns dos outros que examinem as suas ideias, evidência, métodos e raciocínio.

  • Os cientistas esperam uns dos outros que sejam honestos e objetivos ao relatar os seus dados e ideias.

  • Os cientistas esperam uns dos outros que deem crédito pelos dados e ideias de outros que tenham influenciado a sua investigação.

  • Os cientistas esperam uns dos outros que adiram às diretrizes éticas estabelecidas pela comunidade.

veja também
  • Atribuir de forma justa crédito a ideias e evidência é uma parte importante da cultura científica. Isto ocorre geralmente sob a forma de citações em publicações científicas. Para saber mais sobre essas publicações, visite o site Visionlearning (em inglês).

  • As diretrizes éticas a que a comunidade científica adere são muitas vezes elaboradas preventivamente pela própria comunidade. Na década de 1970, as tecnologias genéticas pareciam ter uma enorme promessa — e apresentar riscos enormes. Os investigadores suspenderam temporariamente a investigação com ADN recombinante até que esses riscos pudessem ser avaliados e até poderem criar orientações sobre a utilização desta tecnologia. Para ler mais sobre este esforço de autorregulação, visite o site do Prémio Nobel (em inglês).

  • Visite o site Visionlearning (em inglês) para aprender mais sobre as expetativas éticas da comunidade científica.




Foto de Geoffrey Chang: Scripps Research Institute

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