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Todos somos influenciados pelas culturas em que crescemos e pelas sociedades em que vivemos. Essas culturas definem os contornos das nossas expetativas, valores, crenças e objetivos. Os cientistas também são modelados pelas suas culturas e sociedades que, por sua vez, influenciam o seu trabalho. Por exemplo, um cientista pode recusar-se a participar em certos tipos de investigação que entrem em conflito com as suas crenças e valores, como no caso de Joseph Rotblat, um físico nascido na Polónia, cujas convicções pessoais influenciaram profundamente a investigação que desenvolveu.
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Em cima: Rotblat (fila de trás, extremo direito) participou e ajudou a organizar a primeira Conferência Pugwash, em 1957. Foi um encontro entre académicos e personalidades importantes com o objectivo de reduzir o perigo do conflito armado e procurar soluções cooperativas para problemas globais. Em baixo: Rotblat permaneceu fiel aos ideais da Conferência Pugwash e pode ser visto aqui (em pé, no centro) na 54ª conferência, em 2004. |
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Em 1939, Joseph Rotblat tornou-se um dos primeiros cientistas a compreender as implicações da cisão dos átomos que a energia que é libertada poderia ser usada para desencadear uma reação em cadeia, culminando numa libertação maciça de energia por outras palavras, uma bomba atómica. Contudo, em vez de ficar entusiasmado com a possibilidade, Rotblat ficou preocupado com o enorme custo em vidas humanas que tais armas teriam, e evitou desenvolver a ideia. Nesse mesmo ano, Rotblat conseguiu, por muito pouco, sair da Polónia antes da invasão Nazi e acabou por perder a sua esposa para a ocupação alemã. Ele ficou então com receio que a Alemanha desenvolvesse as suas próprias bombas atómicas.
Compreendendo que uma potência rival com uma arma semelhante podia dissuadir Hitler de fazer uso de uma tal bomba, Rotblat começou a trabalhar afincadamente na ideia, e foi para os Estados Unidos ajudar o Projeto Manhattan a desenvolver uma bomba atómica. Mas então veio um outro ponto de viragem. Foi então que surgiu outro ponto de viragem. Em 1944, Rotblat tomou conhecimento que os cientistas alemães tinham abandonado a sua investigação em armas atómicas. Deixou de parecer provável que a bomba que Rotblat estava a ajudar a desenvolver fosse usada como um mero dissuasor. Em 1944, Rotblat tornou-se no único cientista a demitir-se do Projecto Manhattan porque descobriu que a sua aplicação provável não era ética. Após a Segunda Guerra Mundial, Rotblat canalizou os seus conhecimentos em física para as aplicações médicas e, em 1995, ganhou o prémio Nobel da Paz pelos seus esforços contra a proliferação nuclear.
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Rotblat evitou uma área de investigação particular, devido aos seus pontos de vista éticos; outros cientistas escolheram os seus tópicos de investigação com base nos seus valores ou nos seus compromissos políticos. Por exemplo, o cientista de Harvard Richard Levins era um fervoroso apoiante do socialismo. Após uma passagem por Porto Rico como agricultor e sindicalista, Levins voltou aos Estados Unidos para estudar zoologia, mas não para se focar num tema de pequena escala, como o comportamento de um organismo individual ou uma espécie. Em vez disso, Levins empenhou-se no estudo de biologia populacional e interações entre as comunidades áreas com implicações para os assuntos que o interessavam: desenvolvimento económico, agricultura e saúde pública. Os pontos de vista políticos de Levins não alteram os resultados dos seus estudos científicos, mas influenciam profundamente os tópicos que ele escolheu para estudar
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E, claro, as inclinações sociais dos cientistas individuais podem influenciar o curso da ciência de muitas formas como demonstrado no exemplo que se segue …
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ENCONTRAR INSPIRAÇÃO NOS DETALHES
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Henrietta Leavitt |
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Mulheres a trabalhar no Observatório da Universidade de Harvard, em 1981. Edward Pickering está de pé, no canto esquerdo. |
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No início do século XX, a sociedade americana não esperava que as mulheres tivessem carreiras, e muito menos que levassem a cabo estudos científicos. Consequentemente, mulheres que escolhessem trabalhar em ciência eram frequentemente relegadas para tarefas mais monótonas e mecanizadas. Tal foi o caso quando Henrietta Leavitt foi trabalhar para Edward Pickering no Observatório da Universidade de Harvard. Foi-lhe atribuída a tarefa de catalogar meticulosamente e comparar fotos de milhares de estrelas meros pontos de luz. (De facto, naquela altura, eram preferidas mulheres para tarefas deste tipo devido aos seus temperamentos supostamente pacientes.) No entanto, mesmo dentro deste trabalho penoso, Leavitt encontrou inspiração e um padrão surpreendente nas suas estrelas. Para estrelas cujo brilho varia chamadas estrelas variáveis o período de tempo entre o seu ponto mais brilhante e o seu ponto mais ténue está relacionado com a sua luminosidade: estrelas com ciclos mais lentos são mais luminosas. A sua descoberta tinha implicações vastas e iria, em breve, permitir aos astrónomos medir as dimensões da nossa galáxia e demonstrar que o universo se está a expandir. Mas Pickering não permitiu que Leavitt desse seguimento a esta descoberta. Em vez disso, ela foi mandada de volta para as suas medições, tal como era considerado apropriado para uma mulher na altura, e o estudo das estrelas variáveis foi entregue a outros cientistas para ser desenvolvido. Tivesse a visão das mulheres na sociedade sido mais aberta naquela altura e este capítulo da história da astronomia poderia ter tomado um rumo bastante diferente!
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