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Fusão fria
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  Colega ou rival?
Steven Jones
Professor aposentado Steven E. Jones, Brigham Young University.
 
Com resultados preliminares promissores a apoiar a sua hipótese de fusão a frio, Pons e Fleischmann pediram um subsídio do governo para obter fundos para novas experiências. Como parte do processo de concessão, a proposta de Pons e Fleischmann teve que passar por um processo de revisão por pares. Um dos revisores era Steven Jones, um físico nuclear da Universidade Brigham Young, a apenas 50 quilómetros de distância. Acontece que Jones e um grupo de colaboradores estavam a trabalhar numa experiência semelhante, mas estavam a estudar uma linha de evidência diferente. Enquanto Pons e Fleishmann se concentravam em detetar o calor que seria produzido por fusão, o grupo de Jones estava à procura de outro sinal da fusão — neutrões.

A teoria nuclear - a teoria de como os protões e os neutrões interagem - explica como funciona a fusão e gera muitas expetativas sobre o que devemos observar quando a fusão realmente acontece. De acordo com a teoria nuclear, os átomos de deutério fundem-se e libertam energia num processo em duas etapas:

  1. Os dois átomos de deutério unem-se para formar um único átomo de hélio-4 (hélio, com dois protões e dois neutrões).
  2. Este átomo de hélio-4 tem uma grande quantidade de energia — tanta energia que é instável. O átomo instável rapidamente liberta algumas desta energia em uma de três maneiras: libertando um neutrão, um protão, ou raios gama (um tipo de radiação eletromagnética).

Três reações de fusão do deutério

O processo de fusão — a formação de hélio-4 e a subsequente liberação de energia — deve gerar uma grande quantidade de calor. Além disso, a teoria nuclear diz-nos que quantidade de cada produto da fusão devemos esperar observar: para uma dada quantidade de deutério que sofre fusão, devemos ver a produção de número aproximadamente igual de protões e neutrões, e um número muito menor de raios gama. O calor, neutrões, e hélio-4 poderiam ter sido detetados pelo equipamento disponível na altura. Isso fez com que houvesse pelo menos três linhas de evidência disponíveis para lançar luz sobre se a fusão estava a ocorrer ou não. Detetar esses três produtos na quantidade adequada teria sido uma forte evidência em favor da ocorrência da fusão a frio.

Hipótese/teoria, resultados/observações previstos/reais.

Usando um novíssimo detetor de neutrões topo de gama de última geração, a equipa de Jones tinha encontrado evidência de um pequeno número de neutrões provenientes da sua célula de fusão. Jones interpretou isso como evidência para a fusão. Apesar deste acordo conceptual que a fusão a frio é possível, os detalhes dos resultados de Jones não batiam certo com as descobertas de Pons e Fleischmann. A quantidade de fusão que Jones pensou que estava a detetar era tão diminuta que não tinha qualquer aplicação prática — enquanto que os resultados de Pons e Fleischmann indicavam que as células de fusão poderiam ser no futuro usadas como fonte de energia, alimentando centrais elétricas inteiras.

Steven Jones e colegas físicos de BYU com o seu equipamento de deteção de neutrões.

Professor Steven Jones e colegas físicos da Universidade Brigham Young com o seu equipamento de deteção de neutrões. A partir da esquerda estão Jones, J. Bart Czirr, Gary L. Jensen, Daniel L. Decker, e E. Paul Palmer.

Uma vez que eles estavam a procurar diferentes linhas de evidência para o mesmo fenómeno, Jones pediu à agência de financiamento, o Departamento de Energia dos Estados Unidos, para informar Pons e Fleischmann sobre sua investigação — e sugerir uma colaboração. Cientificamente falando, colaborar era uma boa ideia. Os cientistas devem compreender a teoria e pesquisa atual nas suas áreas, a fim de garantir que o seu trabalho está atualizado e tem em conta avanços recentes. Apesar de Pons e Fleischmann terem extensa formação em química, nenhum deles tinha estudado física nuclear, que era a área de especialização de Jones. Conhecimentos de física adicional teriam sido especialmente úteis neste caso, porque a hipótese de fusão ocorrer em paládio era deveras pouco convencional. Contrariava todo um conjunto de teorias físicas bem apoiadas — que sugeriam que os átomos de deutério dentro do paládio não iriam aproximar-se o suficiente para se fundirem. Ambos os grupos tinham conhecimento relevante que o outro não tinha. Ao colaborar, eles teriam ampliado a sua compreensão do problema, técnicas e evidência — e estariam em posição de julgar com maior rigor se a fusão estava a ocorrer ou não.

Infelizmente, os benefícios da colaboração não foram suficientes para convencer Pons e Fleischmann a trabalhar com o grupo de Jones. Pons e Fleischmann estavam convencidos de que Jones tinha usado dados recolhidos a partir da candidatura deles para conseguir realizar a sua própria experiência. Eles recusaram-se a colaborar — e ao fazê-lo, perderam uma oportunidade para expandir o conhecimento da sua equipa.

A falta de conhecimento de Pons e Fleischmann sobre física nuclear (e a sua recusa em colaborar com outros especialistas) dificultou o seu estudo da fusão a frio.

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Retrato de Steven Jones e imagem do grupo de Jones cedidos por Steven Jones

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