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Fusão fria
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  Neutrões anómalos
Preocupado com a ideia que Jones os iria ultrapassar, Pons realizou à pressa as suas próprias experiências de neutrões, mas a sua busca por neutrões não começou bem. Ele foi inicialmente incapaz de detetar qualquer sinal de neutrões libertados a partir da sua célula de fusão a frio, apesar de que o grande número de neutrões produzidos pela fusão devesse ter sido relativamente fácil de detetar. Pons tentou então uma segunda técnica para a deteção de neutrões. Desta vez ele encontrou neutrões — mas uma centena de milhões de vezes menos do que o número que ele esperava detetar! No entanto, isso ainda era muitas vezes mais neutrões do que o número que Jones tinha encontrado. Nada parecia estar a combinar — os resultados de neutrões de Pons não concordavam com as suas medidas de calor, com os resultados de neutrões de Jones, nem com a teoria nuclear estabelecida, o que sugeria que a fusão não devia, de todo, estar a ocorrer!

Hipótese/teoria, resultados/observações previstos/reais.

Apesar dos seus resultados serem confusos, Pons, Fleischmann, e Jones estavam numa posição excitante. Os seus resultados estavam em conflito com a teoria estabelecida — e tais resultados anómalos, por vezes, levam a grandes avanços científicos. A própria teoria nuclear surgiu desta forma, quando Ernest Rutherford e os seus colegas descobriram que as suas descobertas experimentais não se encaixavam com o modelo estabelecido do átomo. Poderiam os resultados surpreendentes da fusão a frio indicar que a teoria nuclear também precisava de ser repensada? Talvez, mas Pons, Fleischmann, e Jones iriam precisar de evidência forte para apoiar esta conclusão. Tais revoluções teóricas são exceções, não a regra. Os cinquenta anos de trabalho científico e toda a evidência da teoria nuclear indicavam que eles tinham cometido um erro; a fusão não podia estar a ocorrer.

Hipótese/teoria, resultados/observações previstos/reais.

Como cientistas, a linha correta de ação era clara. A conduta científica envolve ceticismo, equilíbrio e mente aberta. Era esperado que os cientistas da fusão a frio mantivessem tanto os novos resultados como a velha teoria em mente, fazendo o seu melhor para recolher mais evidência. Com resultados tão surpreendentes, eles tinham uma responsabilidade ainda maior de realizar testes completos e cuidadosos para apoiar os seus resultados e eliminar a possibilidade de erro experimental.

Embora Jones, Pons e Fleischmann soubessem das suas responsabilidades científicas, havia uma nova pressão para publicar rapidamente, pois os dois grupos estavam a competir um com o outro. Em ciência, não é incomum que dois ou mais grupos investiguem o mesmo problema ao mesmo tempo, e assim a ciência tem uma regra para a atribuição de crédito. O primeiro grupo a publicar recebe o crédito por uma nova descoberta. Assim, se Jones ou a equipa Pons/Fleischmann passessem muito tempo a fazer testes adicionais antes de publicar, eles corriam o risco de não receber o devido crédito científico. Além disso, os resultados da Pons e Fleischmann sugeriam a possibilidade de aplicações lucrativas para a geração de energia — e assim eles também estavam preocupados com os direitos de patentes. As normas para a conduta científica (e do tempo necessário para efetuar testes meticulosos) estavam em conflito com o clima de urgência instigado por outros interesses.

Pons e Fleischmann no seu laboratório.

Pons (esquerda) e Fleischmann no seu laboratório.
 
Apenas dois meses após Pons e Fleischmann terem tido conhecimento que tinham competição, Jones informou-os que estava preparado para publicar. Jones generosamente propôs que ambos os grupos apresentassem os seus trabalhos à mesma revista, ao mesmo tempo, de modo que o crédito pudesse ser compartilhado. A data de apresentação proposta era apenas 18 dias depois, mas Pons e Fleischmann precisavam de mais 18 meses para concluir os testes. Apesar de este facto reduzir severamente o seu tempo para recolher dados, Pons e Fleischmann sentiram que não tinham escolha e concordaram com a submissão do trabalho conjunto. Eles voltaram para o laboratório, determinados a recolher o máximo de evidência possível nos restantes dias.

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Foto de Pons e Fleischmann por Paul Barker, cortesia de Deseret News

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