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No mundo universitário, a máxima "publicar ou perecer" (ou seja ou publicas pesquisa científica ou corres o risco de perder o emprego) é uma chamada de atenção para a importância de se publicar. Apesar do ar de cinismo, esta frase salienta um aspeto importante: a publicação de resultados, hipóteses, teorias, bem como os raciocínios e a evidência necessários para os avaliar, constituem uma parte crítica necessária ao progresso da ciência. Para desempenhar as suas funções como controlador de factos, visionário, delator e motivador, a comunidade científica necessita de ter acesso a informação fidedigna sobre o trabalho dos membros que a compõem. Os cientistas dão a conhecer as suas ideias de várias maneiras — comunicando informalmente com colegas, fazendo apresentações em conferências, escrevendo livros, etc. — mas, entre os diversos modos de comunicar, é dado especial relevo a artigos publicados em revistas científicas com revisão por pares.
O que encontramos num artigo científico? Um artigo científico é uma versão mais elaborada, mais formal, do típico relatório de laboratório que se faz no liceu. Num artigo científico, os cientistas (normalmente um grupo de colaboradores) descrevem um estudo e relatam todos os detalhes necessários para o avaliar — informação de fundo, dados, resultados estatísticos, gráficos, mapas, esclarecimentos de como o estudo foi efetuado e o modo como os investigadores chegaram às conclusões, etc. Estes artigos são publicados em revistas científicas, em formato impresso ou em versão eletrónica na internet. A versão impressa assemelha-se a uma revista comum, exceto que se encontra cheia a abarrotar de relatos de investigação científica em primeira mão. As revistas científicas distribuem informação aos investigadores de todo o mundo, de modo a que estes se mantenham ao corrente do que se passa no seu campo e possam avaliar o trabalho dos seus pares.
Os artigos publicados nestas revistas são uma versão clara e ordenada do processo científico, apresentando ideias, evidência e raciocínios de uma maneira fácil de compreender — em contraste com o frequentemente sinuoso (e por vezes fastidioso) processo da ciência. Como exemplo ilustrativo, leia em baixo a história de Walter Alvarez ...
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DESLINDANDO UM ENREDO TORTUOSO
Em 1980, Walter Alvarez e os seus colegas publicaram um artigo científico na revista Science, onde apresentavam a sua nova e controversa hipótese: propunham que a extinção dos dinossauros se teria devido ao impacto de um asteroide de grandes dimensões com a Terra. Apesar do caráter inédito e bombástico do tema abordado, o artigo apresentava as suas hipóteses e evidência de forma convencional — seguindo uma estrutura linear — permitindo a colegas no campo da geologia e paleontologia compreender e avaliar rapidamente a pesquisa levada a cabo por Alvarez e os seus colaboradores. Ainda que útil para a comunicação de resultados científicos, esta apresentação linear pode dar a impressão que a investigação foi planificada desta forma desde o início — mas, na realidade, o estudo levado a cabo por Alvarez foi tudo menos linear. Ele chegou à sua hipótese de forma totalmente acidental, pois inicialmente tinha-se proposto estudar os movimentos tectónicos da península Italiana. Depois de uma intrigante série de voltas e reviravoltas, falsas partidas, momentos de inspiração e hipóteses rejeitadas, Alvarez e os seus colegas aperceberam-se que tinham em mãos uma investigação muito diferente, mas ainda mais empolgante da que tinham empreendido inicialmente.
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