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Já vimos que a investigação científica geralmente reúne um conjunto de características: foca-se em melhorar o nosso conhecimento acerca do mundo natural, trabalha com ideias testáveis que podem ser verificadas pela evidência, apoia-se na comunidade científica, inspira investigação continuada, e é feita por pessoas que se comportam cientificamente. Embora nem todas as investigações científicas se encaixem perfeitamente no guia da ciência, a ciência, enquanto empreendimento, esforça-se por incorporar estas características. Por exemplo, a descoberta do núcleo atómico por Ernest Rutherford satisfaz precisamente todas essas características. Mas como é que uma investigação "científica" menos típica uma que não aparece nos livros de texto da escola se encaixa no guia da ciência? Para descobrir isso ir-nos-emos debruçar sobre um exemplo da área da psicologia …
Para além do modelo: Psicologia animal
A maioria de nós já se deve ter questionado como é que os outros animais pensam e experienciam o mundo (isto é, o meu cão está realmente feliz por me ver ou apenas quer um biscoito?) mas pode a ciência satisfazer essa curiosidade? Afinal, como é que podemos testar uma ideia sobre como os outros animais pensam? Nos anos 1940, o psicólogo Edward Tolman investigou uma questão parecida usando os métodos da ciência. Ele pretendia saber como é que os ratos se orientam no seu meio com sucesso por exemplo, um labirinto que contém um pedaço de queijo escondido. Tolman suspeitou que os ratos constroem mapas mentais do labirinto à medida que o exploram (formando uma imagem mental do contorno do labirinto). No entanto, muitos dos seus colegas pensaram que os ratos iriam aprender a orientar-se no labirinto através de estímulo-resposta, associando determinados estímulos a determinados resultados (isto é, atravessar este túnel significa que eu consigo um pedaço de queijo) sem formar uma imagem do labirinto.
Como a investigação de Tolman se encaixa na nossa lista:
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Mundo natural? Os cérebros dos ratos e o seu funcionamento fazem parte do mundo natural, tal como o seu comportamento. |
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O que pretende explicar? Tolman pretendia explicar como é que os ratos se orientam no seu meio. |
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Ideias testáveis? A duas ideias sobre a orientação dos ratos (mapas mentais vs estímulo-resposta) são testáveis, mas descobrir como as testar requer um pensamento lógico e perspicaz acerca do modelo experimental. Para testar estas ideias, Tolman e os seus colegas treinaram ratos num labirinto que continha muitos túneis diferentes por onde podiam entrar primeiro. Um dos túneis dava muitas voltas mas levava sempre à recompensa, e depressa os ratos aprenderam a seguir esse túnel. De seguida os investigadores bloquearam a entrada do túnel que levava à recompensa. O que é que os ratos fariam? Tolman argumentou que se os ratos se orientavam através de um mapa mental, escolheriam outro túnel que, de acordo com o seu mapa mental do labirinto, os levaria na direção da comida. Mas se os ratos se orientavam via estímulo-resposta, Tolman argumentou que os ratos escolheriam o túnel mais próximo do túnel que levava a uma recompensa, independentemente de onde este levava, uma vez que era o túnel mais próximo do estímulo com a recompensa. |
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Baseia-se na evidência? Tolman e os seus colegas testaram a ideia do mapa mental através de várias experiências, incluindo a do túnel acima descrita. Nessa experiência, eles descobriram que a maioria dos ratos escolheu um túnel que os levava na direção da comida, em vez do túnel mais próximo do original. A evidência apoiou a ideia de que os ratos se orientam usando uma espécie de mapa mental. |
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Comunidade científica? Tolman publicou muitos artigos sobre este tema em revistas científicas de modo a explicar as suas experiências e as evidências relevantes aos outros psicólogos. |
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investigação continuada? Esta investigação é uma pequena parte de outra investigação muito maior em curso da psicologia sobre como os animais aprendem e tomam decisões baseados nas suas representações do mundo natural. |
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Comportamento científico? Edward Tolman e os seus colegas agiram com integridade científica e comportaram-se de modo a impulsionar a ciência. Eles apresentaram os seus resultados rigorosamente, o que permitiu aos outros testar as suas ideias. |
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Então, isto é ciência? Embora esta investigação da psicologia possa não corresponder à ideia estereotipada que fazemos da ciência (tal como cindir átomos), enquadra-se perfeitamente no âmbito da ciência. Para descobrir mais sobre exemplos menos típicos da ciência e ver como eles se encaixam no guia da ciência, veja também:
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