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Equívocos acerca de ensinar a natureza e o processo da ciência
pela equipa Saber Ciência
Os alunos têm muitos equívocos persistentes sobre a natureza e o processo da ciência. É o trabalho do professor ajudá-los a construir entendimentos mais precisos sobre estes temas. No entanto, isso muitas vezes requer que o professor lide com alguns dos seus próprios equívocos sobre como ensinar a natureza e o processo da ciência. Isso pode tornar o ato de ensinar a natureza e o processo da ciência mais eficaz e mais divertido! A seguinte lista de equívocos de ensino foi desenvolvida por investigadores e professores e orientadores de professores estagiários.
Equívocos sobre porquê ensinar esses tópicos
Equívocos sobre a preparação do ensino destes tópicos
Equívocos acerca de métodos e abordagens do ensino
Equívocos sobre capacidades e atitudes dos alunos
Equívocos sobre porquê ensinar esses tópicos
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência são adicionais ao currículo, e não há tempo de os abordar.
CORREÇÃO: Em primeiro lugar, lembre-se que os alunos precisam compreender a natureza e processo da ciência e que estes são objetivos de aprendizagem que valem por si mesmos, e não meros extras. Os alunos usam as suas conceções sobre a natureza e o processo de ciência precisas ou não para tomar decisões sobre se aceitam ou não as ideias científicas (por exemplo, a evolução ou a mudança climática), sobre se vão continuar estudos em áreas científicas, e sobre outras questões políticas, pessoais e sociais importantes. Este é um conhecimento fundamental para todos os alunos. Em segundo lugar, o ensino sobre a natureza e o processo da ciência pode, e deve, ser totalmente integrado com o ensino de outros conteúdos de ciência. Os professores de ciências estão sempre a transmitir mensagens sobre o que é a ciência, como funciona, e a natureza do conhecimento científico. O segredo é aproveitar as oportunidades para fortalecer essas mensagens, garantir que elas são precisas, e torná-las explícitas para que os alunos estabeleçam conexões apropriadas entre o que eles fazem na aula da ciência e a ciência real. Ensinar sobre a natureza e o processo da ciência não tem que levar muito tempo "extra", mas pode ser feito no contexto de temas de ciência que já são ensinados.
EQUÍVOCO: Ensinar sobre a natureza e o processo da ciência não é permitido porque estes temas não estão incluídos no currículo.
CORREÇÃO: Durante décadas, os padrões e normas de educação científica e documentos de reforma do ensino nos Estados Unidos da América deixaram claro que o ensino da natureza e do processo da ciência é uma parte crucial da educação científica das crianças e dos jovens adultos. Por exemplo, veja a secção sobre práticas científicas e de engenharia no quadro das Academias Nacionais para Educação de Ciência do Pré-Escolar ao Ensino Secundário.
EQUÍVOCO: Os testes só abordam o conhecimento do conteúdo científico, e portanto não há vantagem em ensinar sobre a natureza e o processo da ciência.
CORREÇÃO: A natureza e o processo da ciência é conhecimento que pode ser ensinado e avaliado. Na verdade, os conceitos relacionados com a natureza e processo da ciência estão cada vez mais presentes em testes. Além disso, o que nós ensinamos não deve ser apenas ditado por um teste, mas pelo que é positivo para os alunos. Os alunos usam as suas conceções sobre a natureza e o processo de ciência corretas ou não para tomar decisões sobre se aceitam ou não as ideias científicas (por exemplo, a evolução ou a mudança climática), sobre se vão continuar estudos em áreas científicas, e sobre outras questões políticas, pessoais e sociais importantes. Este é um conhecimento fundamental para todos os alunos.
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Equívocos sobre a preparação do ensino destes tópicos
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EQUÍVOCO: Um professor não pode ensinar a natureza e o processo da ciência, a menos que saiba tudo sobre estes temas.
CORREÇÃO: A natureza e o processo da ciência são realmente temas complexos, com nuances importantes, particularmente na forma como a linguagem é usada (por exemplo, prova, teoria, verdade, etc. para saber mais sobre isto, consulte a página sobre equívocos sobre confusões de vocabulário); no entanto, este site fornece uma introdução amigável ao tema. Além disso, não saber tudo sobre um tópico não é uma desculpa para evitá-lo completamente. Lembre-se que tudo o que faz como professor tem o potencial de transmitir mensagens sobre a natureza e o processo da ciência, portanto abordar estes temas, mesmo que em pequenos passos, pode levar a um ensino destes temas muito mais sofisticado, com tempo e com um esforço deliberado. No fundo é como qualquer outro conteúdo da ciência; à medida que se ensina e estuda um tópico, ganham-se entendimentos mais sofisticados dos conceitos.
EQUÍVOCO: Os materiais curriculares fornecidos aos professores contêm informações suficientes sobre a natureza e o processo da ciência. Neste sentido, os professores não precisam complementar ou ir além do currículo padrão para ensinar com precisão estes temas.
CORREÇÃO: Em múltiplos estudos nos EUA, tem sido mostrado que materiais curriculares descrevem a natureza e o processo da ciência de forma imprecisa ou implícita. Além disso, os livros de texto são notórios por deturpar a ciência de muitas maneiras por exemplo, descrevendo-a como um processo linear simples com as conclusões emergindo a partir dos dados de uma maneira direta, apresentando os cientistas a trabalhar sozinhos em vez de forma colaborativa, e realçando os casos em que o conhecimento se desenvolveu rapidamente ou em que todo um campo mudou com base nos resultados de uma única experiência. Devido a estas imprecisões, poucos professores poderão confiar apenas nos materiais curriculares padrão fornecidos. No entanto, isto não significa que o ensino da natureza e do processo da ciência tenha de ser difícil ou que requeira materiais caros. Este site oferece muitas ferramentas gratuitas e dicas para fortalecer a educação nesta área. Para mais detalhes, veja a Sala dos professores. Para além disso, táticas simples, como ajudar os estudantes a comparar explicitamente a representação da ciência nos seus livros de texto com a sua compreensão de como a ciência realmente funciona, pode alavancar o efeito de materiais curriculares problemáticos de uma forma eficaz.
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Equívocos acerca de métodos e abordagens do ensino
EQUÍVOCO: Os alunos irão automaticamente aprender a natureza e o processo da ciência, fazendo ciência experimental ou investigações autênticas orientadas para a inquirição.
CORREÇÃO: Estudos mostram que os estudantes não fazem automaticamente as ligações entre as suas atividades de ciência e aquilo que os cientistas realmente fazem. Além disso, os alunos vão ser influenciados pelos seus equívocos ao interpretar as atividades que fazem nas aulas. Por exemplo, os alunos podem fazer uma atividade laboratorial flexível e baseada na investigação e, de seguida, afirmar que estavam a seguir o método científico, mesmo quando não foi isso que fizeram e na realidade tinham estado envolvidos num processo mais flexível, não-linear. Para que os alunos façam essas conexões chave corretamente, os professores devem chamar explicitamente a atenção dos alunos para aspetos da natureza e do processo da ciência demonstrados pelas atividades realizadas, fazendo desses aspetos objetivos cognitivos claros na aula e avaliando os resultados obtidos juntamente com o conteúdo de ciência. Para saber mais sobre a pesquisa básica em ensino e aprendizagem sobre a natureza e o processo da ciência, visite a nossa introdução a alguma literatura de investigação.
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência não podem ser ensinados a não ser que o professor use um método de ensino baseado em inquirição.
CORREÇÃO: A natureza da ciência pode ser ensinada de uma variedade de maneiras, incluindo: pequenas atividades de resolução de puzzles que possam iniciar ou terminar uma aula, episódios históricos para acentuar o conteúdo numa área específica, trabalhos de casa, discussões de grupo, desenhos animados, análise de apontamentos e publicações de cientistas, e, claro, atividades laboratoriais e de pesquisa. Qualquer que seja a natureza da aula, os professores devem chamar explicitamente a atenção dos alunos para aspetos da natureza e do processo da ciência que as suas atividades demonstram, a fim de que os alunos façam essas conexões.
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência podem ser compreendidos memorizando pontos de uma lista.
CORREÇÃO: Para ser mais fácil de lembrar e comunicar aspetos importantes da natureza e processo da ciência, essas características são frequentemente resumidas numa lista (por exemplo, veja o Guia da Ciência ou os Sete aspetos da natureza da ciência de Lederman e Lederman); no entanto, a compreensão da natureza e processo da ciência envolve muito mais do que ser capaz de recitar os itens de uma lista. Assim como os professores não esperariam que os alunos memorizassem uma lista de estruturas celulares para representar o seu conhecimento sobre o que as células fazem, os professores não deveriam esperar que os alunos memorizsem uma lista de tópicos sobre a natureza e o processo da ciência. Tais listas servem apenas como lembretes úteis de um conjunto muito mais complexo de conceitos, com muitas implicações, nuances, e interligações. Confira a nossa história de Ciência em Ação Asteroides e dinossauros para ver uma demonstração de como o fazer ciência incorpora em simultâneo múltiplos aspetos de processos científicos, bem como uma ilustração de múltiplos aspetos da natureza da ciência.
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência devem ser ensinados em aulas distintas das aulas em que é tratado o conteúdo da ciência.
CORREÇÃO: Se você está a ensinar matéria de ciência, pode incluir a natureza e o processo da ciência, integrando este tema no currículo. Isso permite que os alunos vejam como essas ideias se aplicam à ciência real. Para ver exemplos de lições que integram o ensino da natureza e processo da ciência em conteúdo científico, confira os Exemplos de lições listados em cada sala dos professores. É claro que o ensino eficaz sobre a natureza e o processo da ciência também pode ocorrer no âmbito de atividades e experiências que não estão integradas num tema específico, mas que podem ser relacionadas com uma variedade de áreas de conteúdo científico. Para exemplos deste tipo de aula, veja os exemplos de atividades iniciais dentro de cada sala dos professores. Todas as aulas sobre a natureza e o processo da ciência podem e devem ser relacionadas com algum contexto dentro da ciência.
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência podem ser ensinados numa única unidade no início do ano.
CORREÇÃO: Conceitos sobre a natureza e processo da ciência têm que ser introduzidos e revisitados durante o ano letivo em múltiplos contextos (por exemplo, atividades de laboratório, exemplos de cientistas históricos e contemporâneos, etc.). Alguns desses conceitos são complexos e subtis, e os alunos precisam de muitas oportunidades de vê-los em ação. É muito menos provável que os alunos compreendam a natureza e processo da ciência, se estes conceitos permanecerem isolados do conteúdo de ciência básica.
EQUÍVOCO: A natureza e o processo da ciência têm de ser incorporados em todo o ensino de ciência.
CORREÇÃO: Os professores são profissionais que determinam quando vão ensinar o quê, com base no contexto, no conteúdo, nas necessidades dos alunos, etc. Dependendo desses fatores, os professores podem abordar diferentes conceitos a respeito da natureza e do processo da ciência em diferentes unidades ou lições e algumas lições podem pura e simplesmente não ser adequadas para realçar estes conceitos. Para ensinar efetivamente a natureza e o processo da ciência, esses conceitos não precisam de ser enfatizado em cada lição. Em vez disso, a chave é ensinar e rever estes conceitos em múltiplos contextos, consoante for apropriado ao longo do período escolar.
EQUÍVOCO: Ao ensinar uma lição que lida com a natureza e o processo da ciência, todos os conceitos sobre estes temas devem ser abordados.
CORREÇÃO: Tal como um professor de biologia pode não abordar todas as partes da transcrição e transdução do ADN numa única aula, os conceitos sobre a natureza e processo da ciência podem (e devem) ser repartidos por múltiplas lições, conforme for apropriado. Por exemplo, uma lição poderá não demonstrar como os cientistas são criativos quando analisam dados, mas pode ilustrar a natureza provisória do conhecimento científico de forma exemplar.
EQUÍVOCO: A aprendizagem dos alunos em relação à natureza e processo da ciência não pode ser avaliada, visto ser completamente subjetiva ou afetiva.
CORREÇÃO: A aprendizagem dos alunos a respeito da natureza e do processo da ciência pode e deve ser avaliada como qualquer outro objetivo de aprendizagem. Avaliações sobre estes temas podem ter vários formatos diferentes escolha múltipla, resposta curta, redações, trabalhos, com base no desempenho, e outros.
EQUÍVOCO: A natureza da ciência é a mesma coisa que o processo da ciência.
CORREÇÃO: Estes são dois aspetos diferentes da ciência. A natureza da ciência lida com questões de filosofia, sociologia e história da ciência. Isto inclui preocupações com a natureza ou atributos do próprio conhecimento científico por exemplo, que o conhecimento científico é durável, mas é inerentemente sujeito a alterações. O processo da ciência aborda o que os cientistas fazem para desenvolver esse conhecimento. É importante perceber que se pode ensinar os alunos sobre o processo da ciência, mas sem abordar a natureza da ciência. Uma vez que ambos são fundamentais para a compreensão de como a ciência realmente funciona, os professores precisam dedicar atenção a ambos.
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Equívocos sobre capacidades e atitudes dos alunos
EQUÍVOCO: Os alunos não estão interessados na natureza e processo da ciência.
CORREÇÃO: Até mesmo crianças novas gostam de aprender sobre o que é a ciência e o que os cientistas fazem. Quando os alunos começam a compreender as questões relacionadas com a natureza da ciência, elas frequentemente querem saber mais. Se você acha que os seus alunos não estão interessados em aprender sobre a natureza da ciência, considere realçar o lado humano da ciência quem os cientistas realmente são. A investigação descobriu que os alunos optam por não seguir ciência porque veem a ciência como desprovida de seres humanos.
EQUÍVOCO: Os alunos não conseguem realmente entender a natureza e o processo da ciência; as questões filosóficas são complexas demais para eles.
CORREÇÃO: Estudos mostram que os alunos do pré-escolar à faculdade podem aprender conceitos importantes sobre a natureza e o processo da ciência. Além disso, o site Saber Ciência apresenta uma visão consensual mas precisa sobre estes tópicos que não se deixa desviar por debates filosóficos. Estudantes de todos os níveis de ensino podem entender os principais conceitos a partir deste site. Veja o nosso quadro conceptual para ver quais conceitos são apropriados para diferentes níveis de ensino. Para saber mais sobre a investigação básica em ensino e aprendizagem sobre a natureza e o processo da ciência, visite a nossa introdução a alguma literatura de pesquisa.
EQUÍVOCO: Ensinar sobre a natureza e o processo da ciência fará com que os alunos desvalorizem a ciência, uma vez que irão vê-la como aberta à mudança e não completamente objetiva.
CORREÇÃO: A ciência está aberta a mudanças e não é completamente objetiva. Os alunos precisam de entender estes aspetos da natureza e do processo da ciência, bem como os aspetos da ciência que fazem o conhecimento científico ser confiável. A sociedade e os meios de comunicação colocaram, desnecessariamente, a ciência numa posição em que o público em geral ou pensa que a ciência fornece a verdade absoluta e tem toda a autoridade, ou, inversamente, acha que a ciência coloca a opinião de um cientista contra a de outro e que todos são igualmente especialistas. Nenhum destes extremos é preciso. Ajudar os alunos a evitar tais visões extremas e compreender o papel da ciência na sociedade é uma parte importante de uma educação de qualidade. Os professores podem encorajar uma visão adequadamente diferenciada, abordando muitos aspetos da natureza e processo da ciência (e não apenas aqueles que levam à natureza provisória do conhecimento científico) e destacando conexões entre tópicos diversos, ao invés de ensinar apenas alguns aspetos da natureza da ciência de forma isolada. Por exemplo, quando uma lição realça que as ideias científicas são abertas a mudanças, o professor pode incentivar a discussão na turma a concentrar-se na razão pela qual essas mudanças melhoram a nossa compreensão do mundo natural e por que é que podemos confiar neste conhecimento.
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