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Equívocos acerca de ciência

Muitos alunos têm ideias erradas sobre o que é a ciência e como ela funciona. Esta secção explica e corrige alguns dos equívocos mais comuns, com os quais os alunos têm provavelmente mais dificuldades. Se você está interessado em equívocos comuns sobre o ensino da natureza e processo da ciência, visite a nossa página sobre esse assunto.


Interpretações erradas do processo científico

Interpretações erradas dos limites da ciência

Estereótipos enganosos de cientistas

Confusões de vocabulário

Barreiras à aprendizagem da ciência



Interpretações erradas do processo científico

  • EQUÍVOCO: A ciência é uma coleção de factos.

    CORREÇÃO: Como as aulas de ciências por vezes se baseiam em livros maçudos, é fácil pensar que a ciência é só isso: factos num livro de texto. Mas isso é apenas parte da imagem. A ciência é um corpo de conhecimento que se pode aprender em livros de texto, mas também é um processo. A ciência é um processo excitante e dinâmico para descobrir como funciona o mundo e construir estruturas poderosas e coerentes com base nesse conhecimento. Para saber mais sobre o processo da ciência, visite a nossa secção sobre Como a ciência funciona.

  • EQUÍVOCO: A ciência é completa.

    CORREÇÃO: Uma vez que muito do que é ensinado nos cursos introdutórios de ciências é conhecimento que foi construído nos séculos XIX e XX, é fácil pensar que a ciência está terminada — que já descobrimos a maioria do que há a saber sobre o mundo natural. Isso está longe de estar correto. A ciência é um processo contínuo, e há muito mais a aprender sobre o mundo. De facto, na ciência, fazer uma descoberta crucial leva frequentemente a que muitas novas perguntas apareçam, prontas para serem investigadas. Além disso, os cientistas estão constantemente a elaborar, aperfeiçoar e rever as ideias científicas estabelecida, com base em novas evidências e perspetivas. Para saber mais sobre isto, visite a nossa página que descreve como as ideias científicas conduzem a investigação continuada.

  • EQUÍVOCO: Há um único Método Científico que todos os cientistas seguem.

    CORREÇÃO: "O Método Científico" é frequentemente ensinado em cursos de ciência como uma forma simples de compreender os conceitos básicos de testes científicos. De facto, o método científico representa a forma como os cientistas costumam escrever os resultados dos seus estudos (e como algumas, poucas, investigações são realmente feitas), mas é uma representação muito simplificada de como os cientistas geralmente constroem conhecimento. O processo da ciência é emocionante, complexo e imprevisível. Envolve muitas pessoas diferentes, envolvidas em muitas atividades diferentes, em muitas áreas diferentes. Para ver uma representação mais precisa do processo da ciência, explore o fluxograma da ciência.

  • EQUÍVOCO: O processo da ciência é exclusivamente analítico e não envolve criatividade.

    CORREÇÃO: Talvez porque o Método Científico apresenta uma representação linear e rígida do processo da ciência, muitas pessoas pensam que fazer ciência é seguir de perto uma série de passos, sem espaço para a criatividade e inspiração. De facto, muitos cientistas reconhecem que o pensamento criativo é uma das competências mais importantes que eles têm — independentemente de a criatividade ser usada para chegar a uma hipótese alternativa, para elaborar uma nova maneira de testar uma ideia, ou para olhar para dados antigos a uma nova luz. A criatividade é fundamental para a ciência!

  • EQUÍVOCO: Quando os cientistas analisam um problema, eles têm que usar raciocínio indutivo ou dedutivo.

    CORREÇÃO: Os cientistas usam modos de raciocínio diferentes em momentos diferentes — e por vezes ao mesmo tempo — quando analisam um problema. Eles também usam a sua criatividade para chegar a novas ideias, explicações e testes. Isto não é uma escolha entre indução e dedução. A análise científica muitas vezes envolve saltar entre diferentes modos de raciocínio e pensamento criativo! O que é importante sobre o raciocínio científico não é os nomes dos diferentes modos de raciocínio, mas o facto de que o processo científico depende de uma consideração lógica cuidada de como a evidência apoia ou não apoia uma ideia, de como ideias científicas diferentes estão relacionadas uma com a outra, e do que poderemos esperar observar se uma determinada ideia for verdadeira. Se você estiver interessado em saber mais sobre a diferença entre indução e dedução, visite a secção de perguntas frequentes sobre o tema.

  • EQUÍVOCO: As experiências são uma parte necessária do processo científico. Sem uma experiência, um estudo não é rigoroso ou científico.

    CORREÇÃO: Talvez porque o Método Científico e representações populares da ciência realçam a realização de experiências, muitas pessoas pensam que a ciência não pode ser feita sem uma experiência. Na verdade, existem muitas maneiras de testar praticamente qualquer ideia científica; a experimentação é apenas uma delas. Algumas ideias são melhor testadas através da criação de uma experiência controlada em laboratório, algumas são melhor testadas fazendo observações detalhadas do mundo natural, e outras ainda com uma combinação de estratégias. Para estudar exemplos detalhados de como as ideias científicas podem ser testadas de forma imparcial, com e sem experiências, veja também Testes imparciais: Um guia "faça você mesmo".

  • EQUÍVOCO: As ciências "duras" são mais rigorosas e científicas do que as ciências "soft".

    CORREÇÃO: Alguns cientistas e filósofos têm tentado traçar uma linha de separação entre as ciências "duras" (por exemplo, química e física) e as "soft" (por exemplo, psicologia e sociologia). A ideia é que a ciência dura utiliza métodos quantitativos e mais rigorosos que a ciência soft, e por isso é mais digna de confiança. Na verdade, o rigor de um estudo científico tem muito mais a ver com a abordagem do investigador do que com a disciplina. Muitos estudos de psicologia, por exemplo, são cuidadosamente controlados, dependem de amostras de grande tamanho, e são altamente quantitativos. Para saber mais sobre como testes rigorosos e imparciais são concebidos, independentemente da disciplina, veja também Testes imparciais: Um guia "faça você mesmo".

  • EQUÍVOCO: As ideias científicas são absolutas e imutáveis​​.

    CORREÇÃO: Como os livros de texto mudam muito pouco de ano para ano, é fácil imaginar que as ideias científicas não mudam nada. É verdade que algumas ideias científicas estão tão bem estabelecidas e são apoiadas por tantas linhas de evidência, que não são suscetíveis de ser completamente rejeitadas. No entanto, mesmo essas ideias estabelecidas estão sujeitas a modificações com base em novas evidências e perspetivas. Além disso, na investigação científica de ponta — áreas de conhecimento que são difíceis de representar em livros de texto introdutórios — as ideias científicas podem mudar rapidamente à medida que os cientistas testam diversas explicações possíveis tentando descobrir quais são as mais precisas. Para saber mais sobre este assunto, visite a nossa página que descreve como a ciência tem como objetivo construir conhecimento.

  • EQUÍVOCO: Como as ideias científicas são provisórias e sujeitas a alterações, não podemos confiar nelas.

    CORREÇÃO: Sobretudo quando se trata de descobertas científicas sobre saúde e medicina, por vezes pode parecer que os cientistas estão sempre a mudar de ideia. Num mês há uma notícia nos jornais que diz para não comer chocolate devido à sua gordura saturada e açúcar, no mês seguinte as empresas de chocolate vangloriam-se sobre as propriedades antioxidantes do chocolate e por estes não conterem gorduras trans. Existem várias razões para tais inversões aparentes de ideias. Em primeiro lugar, a imprensa tende a chamar a atenção para divergências ou ideias que estejam em conflito com pontos de vista já existentes. Em segundo lugar, as ideias na investigação de ponta (por exemplo, sobre novos estudos médicos) podem mudar rapidamente à medida que os cientistas testam muitas explicações possíveis para tentar descobrir quais são as mais precisas. Esta é uma parte normal e saudável do processo da ciência. Embora seja verdade que todas as ideias científicas estão sujeitas a alteração se tal é justificado pela evidência, muitas ideias científicas (por exemplo, a teoria da evolução ou as ideias fundamentais em química) são suportadas por muitas linhas de evidência, são extremamente seguras, e é improvável que mudem. Para saber mais sobre a provisoriedade da ciência e a sua representação pelos meios de comunicação, visite a secção Um modo científico de ver a vida.

  • EQUÍVOCO: As observações dos cientistas são uma indicação direta de como as coisas funcionam (ou seja, o conhecimento é "lido da" natureza, e não construído).

    CORREÇÃO: Como a ciência se baseia na observação e porque o processo da ciência é pouco familiar para muitas pessoas, pode parecer que os cientistas constroem o conhecimento diretamente através da observação. A observação é fundamental na ciência, mas os cientistas frequentemente fazem inferências sobre o que essas observações significam. As observações são parte de um processo complexo que envolve ter ideias sobre como o mundo natural funciona, e ver se as observações apoiam essas ideias. Aprender sobre o funcionamento do mundo natural é menos como ler um livro e mais como escrever um livro de não-ficção — ou seja, experimentar ideias diferentes, reformular o texto, dar rascunhos a ler a outras pessoas, e modificar o texto, de modo a apresentar as explicações o mais claras e mais precisas possíveis para o que observamos no mundo natural. Para saber mais sobre como o conhecimento científico é construído, visite a nossa secção Como a ciência funciona.

  • EQUÍVOCO: A ciência prova ideias.

    CORREÇÃO: Os jornalistas muitas vezes escrevem sobre a "prova científica" e alguns cientistas falam sobre isso, mas, na realidade, o conceito de prova — prova real e absoluta — não é muito científico. A ciência é baseada no princípio de que qualquer deia, não importa o quão amplamente seja aceite hoje em dia, pode eventualmente ser abandonada amanhã se a evidência o justificar. A ciência aceita ou rejeita ideias com base na evidência; a ciência nem prova ideias nem prova a sua falsidade. Para saber mais sobre este tema, visite a nossa página que descreve como a ciência tem como objetivo construir conhecimento.

  • EQUÍVOCO: A ciência só pode refutar ideias.

    CORREÇÃO: Este equívoco é baseado na ideia de falsificação, que vem do trabalho do influente filósofo Karl Popper sobre justificação científica, que sugere que tudo o que a ciência pode fazer é rejeitar ou falsificar hipóteses — e consequentemente, que a ciência não consegue encontrar evidência que apoie uma ideia contra outras ideias. A falsificação foi uma doutrina filosófica popular — especialmente entre os cientistas — mas foi depressa reconhecido que a falsificação não é uma imagem muito completa ou exata de como o conhecimento científico é construído. Na ciência, as ideias nunca podem ser completamente provadas ou completamente refutadas. Em vez disso, a ciência aceita ou rejeita ideias com base em evidência que as apoie ou contrarie, e poderá rever essas conclusões se tal se justificar devido a novas evidências ou perspetivas.

  • EQUÍVOCO: Se a evidência apoia a hipótese, a hipótese torna-se numa teoria. Se depois a teoria acumular ainda mais apoio, pode-se tornar numa lei.

    CORREÇÃO: Este equívoco pode ser reforçado por cursos introdutórios de ciências que descrevem hipóteses como "coisas sobre as quais ainda não temos a certeza", e que apenas exploram teorias estabelecidas e aceites. Na verdade, hipóteses, teorias e leis são um pouco como maçãs, laranjas e bananas: uma maçã não pode crescer e transformar-se numa banana, independentemente da quantidade de fertilizantes e água à disposição. Hipóteses, teorias e leis são explicações científicas que diferem em abrangência — e não em nível de apoio. As hipóteses são explicações que são limitadas em alcance, aplicando-se a uma gama bastante estreita de fenómenos. O termo lei é por vezes utilizado para se referir a uma ideia sobre como fenómenos observáveis estão relacionados uns com os outros — mas o termo também é usado de outras maneiras dentro da ciência. Teorias são explicações profundas que se aplicam a uma ampla gama de fenómenos e que podem integrar muitas hipóteses e leis. Para saber mais sobre este tema, visite a nossa página sobre os múltiplos níveis de explicação na ciência.

  • EQUÍVOCO: As ideias científicas são avaliadas democraticamente com base na sua popularidade.

    CORREÇÃO: Quando os jornais fazem afirmações como: "a maioria dos cientistas concorda que a atividade humana é responsável pelo aquecimento global", é fácil imaginar que os cientistas fazem uma reunião anual e votam nas suas hipóteses favoritas. Mas, claro, não é bem assim que funciona. As ideias científicas são julgadas não pela sua popularidade, mas com base em evidência que as apoie ou contradiga. Uma hipótese ou teoria é aceite por muitos cientistas (geralmente ao fim de vários anos — ou décadas), quando reúne muitas linhas de evidência e enfrenta o escrutínio da comunidade científica. Uma hipótese aceite pela "maioria dos cientistas" pode não ser "popular" ou ter repercussões positivas, mas foi julgada pela ciência como sendo provável que seja precisa com base na evidência disponível. Para saber mais sobre como a ciência julga ideias, visite a nossa série de páginas sobre o assunto na nossa secção sobre como a ciência funciona.

  • EQUÍVOCO: O trabalho de um cientista é encontrar apoio para as suas hipóteses.

    CORREÇÃO: Este equívoco provavelmente decorre de aulas laboratoriais introdutórias, com a sua ênfase usual em obter a resposta "certa" e com elogios dados a quem tenha defendido a hipótese "correta" desde o início. Na verdade, a ciência ganha tanto ao descobrir quais as hipóteses que são provavelmente erradas, como ao descobrir quais hipóteses são suportadas pela evidência. Os cientistas podem ter hipóteses favoritas, mas eles esforçam-se por considerar várias hipóteses e por ser imparciais ao avaliá-las com base na evidência. Um cientista que descobre evidência que contradiga a sua hipótese favorita pode ficar surpreendido e, provavelmente, desapontado, mas também pode ficar tranquilo por saber que fez uma valiosa contribuição para a ciência.

  • EQUÍVOCO: Os cientistas são avaliados com base em quantas hipóteses corretas propõem (ou seja, os bons cientistas são aqueles que estão "certos" mais vezes).

    CORREÇÃO: É verdade que a comunidade científica valoriza os indivíduos que têm uma boa intuição e encontram explicações criativas que acabam por ser corretas — mas também valoriza os cientistas que são capazes de encontrar formas criativas de testar uma ideia nova (mesmo que o teste acabe contradizendo a ideia) ou que detetam uma falha fatal num determinado argumento ou teste. Na ciência, a recolha de evidência para determinar a precisão de uma explicação é tão importante como encontrar a explicação que no fim acaba por ser apoiada pela evidência.

  • EQUÍVOCO: Investigações que não chegam a uma conclusão firme são inúteis e impublicáveis.

    CORREÇÃO: Talvez porque a última etapa do Método Científico é geralmente "tirar uma conclusão", é fácil imaginar que os estudos que não chegam a uma conclusão clara não podem ser científicos ou importantes. Na verdade, a maioria dos estudos científicos não chegam a conclusões "firmes". Os artigos científicos geralmente acabam com uma discussão sobre as limitações dos testes realizados e as hipóteses alternativas que também poderiam explicar o fenómeno. Essa é a natureza do conhecimento científico — é inerentemente provisório e pode ser revertido se novas evidências, novas interpretações, ou uma explicação melhor aparecer. Na ciência, os estudos que analisam cuidadosamente os pontos fortes e fracos do teste realizado e das diversas explicações alternativas são particularmente valiosos, uma vez que incentivam outras pessoas a examinar mais a fundo as ideias e as evidências e a desenvolver novas maneiras de testar as ideias. Para saber mais sobre a publicação e análise da ciência, visite a nossa discussão de revisão por pares.

  • EQUÍVOCO: Os cientistas são completamente objetivos na avaliação de ideias e evidências científicas.

    CORREÇÃO: Os cientistas esforçam-se por ser imparciais quando consideram diferentes ideias científicas, mas os cientistas também são pessoas. Eles têm diferentes crenças e objetivos pessoais — e podem favorecer diferentes hipóteses por diferentes motivos. Cientistas individuais não podem ser completamente objetivos, mas a ciência pode superar este obstáculo através da ação da comunidade científica, que analisa o trabalho científico e ajuda a equilibrar vieses, preferências, e preconceitos. Para saber mais, visite Escrutínio científico na nossa secção sobre o lado social da ciência.

  • EQUÍVOCO: A ciência é pura. Os cientistas trabalham sem ter em conta as aplicações das suas ideias.

    CORREÇÃO: É verdade que alguma investigação científica é feita sem qualquer atenção às suas aplicações, mas certamente que isto não é assim em toda a ciência. Muitos cientistas escolhem áreas específicas de investigação (por exemplo, a genética da malária) por causa das ramificações práticas que novos conhecimentos nessas áreas podem ter. E, muitas vezes, a investigação básica que é realizada sem pensar em potenciais aplicações acaba sendo extremamente útil. Para saber mais sobre algumas das muitas aplicações do conhecimento científico visite O que é que a ciência tem feito por si ultimamente

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Interpretações erradas dos limites da ciência

  • EQUÍVOCO: A ciência contradiz a existência de Deus.

    CORREÇÃO: Como alguns indivíduos (tanto dentro como fora da ciência) declaram estridentemente as suas convicções, é fácil ter a impressão de que a ciência e a religião estão em guerra. Na realidade, pessoas de muitas fés e níveis de conhecimentos científicos diferentes não veem nenhuma contradição entre a ciência e a religião. Porque a ciência lida apenas com os fenómenos e explicações naturais, não pode apoiar ou contradizer a existência de entidades sobrenaturais — como Deus. Para saber mais, veja também Ciência e religião: Diferenças reconciliáveis.

  • EQUÍVOCO: A ciência e a tecnologia podem resolver todos os nossos problemas.

    CORREÇÃO: Os feitos realizados através da aplicação do conhecimento científico são verdadeiramente surpreendentes. A ciência tem-nos ajudado a erradicar doenças mortais, a comunicar com pessoas de todo o mundo, e a construir tecnologias que facilitam as nossas vidas todos os dias. Mas em todas as inovações científicas, os custos devem ser cuidadosamente ponderados em relação aos benefícios. E, claro, não há nenhuma garantia de que existam soluções para alguns problemas (por exemplo, encontrar uma vacina contra o HIV) — embora a ciência possa ser capaz de nos ajudar a descobrir a solução se ela existir. Além disso, algumas preocupações humanas importantes (por exemplo, algumas questões espirituais e estéticas) não podem de todo ser abordadas pela ciência. A ciência é uma ferramenta maravilhosa para nos ajudar a entender o mundo natural, mas não é uma panaceia para todos os nossos problemas.

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Estereótipos enganosos de cientistas

  • EQUÍVOCO: A ciência é uma atividade solitária.

    CORREÇÃO: Quando os cientistas são retratados em filmes e programas de televisão, estão muitas vezes embrenhados em laboratórios silenciosos, sozinhos com os seus tubos de ensaio borbulhantes. Isso pode fazer a ciência parecer solitária. De facto, muitos cientistas trabalham em laboratórios ou estações de campo repletos de atividade, rodeados por outros cientistas e estudantes. Os cientistas frequentemente colaboram uns com os outros em estudos, orientam os cientistas menos experientes, e simplesmente conversam sobre o seu trabalho durante o café. Até mesmo aqueles poucos cientistas que trabalham completamente sozinhos dependem de interações com o resto da comunidade científica para examinar o seu trabalho e obter ideias para novos estudos. A ciência é um empreendimento social. Para saber mais, visite nossa secção sobre O lado social da ciência.

  • EQUÍVOCO: A ciência é feita por "homens brancos, velhos."

    CORREÇÃO: Embora seja verdade que a ciência ocidental costumava ser dominada por homens brancos, isso já não é assim. A diversidade da comunidade científica está-se rapidamente a expandir. A ciência é aberta a qualquer pessoa que tenha curiosidade sobre o mundo natural e que queira ter uma abordagem científica nas suas investigações. Para ver como ciência beneficia com uma comunidade diversificada, visite A comunidade científica: A diversidade importa.

  • EQUÍVOCO: Os cientistas são ateus.

    CORREÇÃO: Isto está longe de ser verdade. Uma pesquisa feita em 2005 sobre cientistas nas melhores universidades de investigação descobriu que mais de 48% tinha uma afiliação religiosa e que mais de 75% acreditava que as religiões transmitem verdades importantes.1 Alguns cientistas não são religiosos, mas muitos outros subscrevem uma fé e/ou acreditam em poderes superiores. A própria ciência é uma atividade secular, mas acolhe participantes de todas as crenças religiosas. Para saber mais, veja também Ciência e religião: Diferenças reconciliáveis.

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Confusões de vocabulário
Alguns equívocos ocorrem simplesmente porque a linguagem científica e a linguagem quotidiana usam algumas das mesmas palavras de forma diferente.

  • Facto: Factos são declarações que sabemos serem verdadeiras através da observação direta. No uso diário, os factos são uma forma altamente valorizada de conhecimento, porque podemos ter muita confiança neles. O pensamento científico, no entanto, reconhece que, embora os factos sejam importantes, só podemos estar completamente confiantes acerca de declarações relativamente simples. Por exemplo, pode ser um facto que existem três árvores no seu quintal. No entanto, o nosso conhecimento de como todas as árvores estão relacionadas umas com as outras não é um facto, é um corpo complexo de conhecimento baseado em muitas linhas de evidência e raciocínio diferentes, que podem mudar à medida que nova evidência é descoberta e à medida que evidência antiga é interpretada de novas maneiras. Embora o nosso conhecimento das relações entre árvores não seja um facto, é amplamente aplicável, útil em muitas situações, e sintetiza muitos factos individuais num quadro mais amplo. A ciência valoriza factos, mas reconhece que muitas formas de conhecimento são mais poderosas do que simples factos.

  • Lei: Na linguagem corrente, uma lei é uma regra que deve ser respeitada, ou algo que se sabe acontecer numa situação particular. As leis científicas, por outro lado, são menos rígidas. Elas podem ter exceções, e, tal como outro conhecimento científico, podem ser modificadas ou rejeitadas com base em novas evidências e perspetivas. Na ciência, o termo lei geralmente refere-se a uma generalização sobre dados e é uma forma compacta de descrever o que nós esperamos que aconteça numa situação particular. Algumas leis são afirmações não-mecanicistas sobre a relação entre fenómenos observáveis. Por exemplo, a lei dos gases ideais descreve como a pressão, volume e temperatura de uma determinada quantidade de gás estão relacionados uns com os outros. Ele não descreve como os gases têm que se comportar; é sabido que os gases não se comportam exatamente de acordo com a lei do gás ideal. Outras leis lidam com fenómenos que não são diretamente observáveis. Por exemplo, a segunda lei da termodinâmica lida com entropia, a qual não é diretamente observável da mesma maneira que o volume e a pressão são. Outras leis, ainda oferecem explicações mais mecanicistas de fenómenos. Por exemplo, a primeira lei de Mendel oferece um modelo de como os genes são passados aos gâmetas e descendentes, o que nos ajuda a fazer previsões sobre os resultados de cruzamentos genéticos. O termo lei pode ser usado para descrever muitas formas diferentes de conhecimento científico, e se uma determinada ideia é ou não chamada de lei tem muito a ver com a sua disciplina e com o período de tempo em que foi desenvolvida pela primeira vez.

  • Observação: Na linguagem corrente, a palavra observação geralmente significa algo que vimos com os nossos próprios olhos. Na ciência, o termo é usado de forma mais ampla. Observações científicas podem ser feitas diretamente com os nossos próprios sentidos, ou podem ser feitas de forma indireta através do uso de instrumentos como termómetros, kits de teste de pH, contadores Geiger, etc. Nós não podemos realmente ver partículas beta, mas podemos observá-las usando um contador Geiger . Para saber mais sobre o papel da observação na ciência, visite Observação para além dos nossos sentidos na nossa secção sobre como a ciência funciona.

  • Hipótese: Na linguagem corrente, a palavra hipótese geralmente refere-se a um palpite — ou a uma ideia acerca da qual estamos bastante incertos. Hipóteses científicas, no entanto, têm por trás muito mais informação do que qualquer palpite e geralmente são baseadas em experiência anterior, conhecimento de base científica, observações preliminares, e lógica. Além disso, as hipóteses são muitas vezes apoiadas por muitas linhas diferentes de evidência — neste caso, os cientistas estão mais confiantes nelas do que estariam em qualquer mera "suposição". Para complicar as coisas ainda mais, os livros didáticos de ciência frequentemente usam mal o termo, de uma maneira ligeiramente diferente. Eles podem pedir aos alunos para fazer uma hipótese sobre o resultado de uma experiência (por exemplo, sal de mesa dissolve-se na água mais rapidamente do que o sal grosso). Isto é simplesmente uma previsão ou um palpite (mesmo que bem informado) sobre o resultado de uma experiência. Hipóteses científicas, por outro lado, têm poder explicativo — são explicações para os fenómenos. A ideia de que o sal de mesa se dissolve mais rapidamente do que sal grosso não é exatamente uma hipótese, porque não é muito explicativa. A hipótese mais científica (isto é, mais explicativa) poderia ser "A área da superfície de uma substância afeta a rapidez com que ela se pode dissolver. Uma área superficial maior leva a uma taxa de dissolução mais rápida." Esta hipótese tem algum poder explicativo — dá-nos uma ideia da razão porque um determinado fenómeno ocorre — e é testável porque gera expetativas sobre o que devemos observar em situações diferentes. Se a hipótese for precisa, então seria de esperar que, por exemplo, açúcar em pó deveria dissolver-se mais rapidamente do que o açúcar granulado. Os alunos podem examinar as taxas de dissolução de muitas substâncias diferentes em pó, granulado e grão grande, para testar a ideia mais profundamente. A declaração "O sal de mesa vai-se dissolver na água mais rapidamente do que o sal de rocha" não é uma hipótese, mas uma expetativa gerada por uma hipótese. Livros didáticos e aulas laboratoriais de ciência podem levar a confusões sobre a diferença entre uma hipótese e uma expetativa em relação ao resultado de um teste científico. Para saber mais sobre hipóteses científicas, visite A ciência em múltiplos níveis na nossa secção sobre como a ciência funciona.

  • Teoria: Na linguagem corrente, a palavra teoria é muitas vezes usada para significar um palpite com pouco apoio em evidência. As teorias científicas, por outro lado, são explicações gerais para uma ampla gama de fenómenos. Elas são concisas (ou seja, geralmente não têm uma longa lista de exceções e regras especiais), coerentes, sistemáticas e podem ser usadas para fazer previsões sobre muitos tipos diferentes de situações. Uma teoria é mais aceitável para a comunidade científica quando é fortemente apoiada por muitas linhas diferentes de evidência — mas até mesmo as teorias podem ser modificadas ou postas de lado se isso for justificado por novas evidências e perspetivas. Para saber mais sobre as teorias científicas, visite A ciência em múltiplos níveis na nossa secção sobre como a ciência funciona.

  • Falsificável: A palavra falsificável não é muito usada na linguagem comum, mas quando é, é muitas vezes aplicada a ideias que foram mostradas serem falsas. Quando é esse o caso — quando uma ideia foi mostrada ser falsa — um cientista diria que a ideia foi falsificada. Uma ideia falsificável, por outro lado, é aquela para a qual existe um teste concebível que possa produzir evidência que demonstre que a ideia é falsa. Cientistas e outras pessoas, influenciados pelas ideias do filósofo Karl Popper, por vezes, afirmam que apenas ideias falsificáveis são científicas. No entanto, atualmente reconhecemos que a ciência não pode de uma vez por todas provar que uma certa ideia é falsa (ou verdadeira). Além disso, é claro que a evidência pode desempenhar um papel no apoio a determinadas ideias em vez de outras — e não serve apenas para descartar algumas ideias, como se depreende pelo critério da falseabilidade. Quando um cientista diz falsificável, na realidade provavelmente quer dizer algo como testável, o termo que usamos neste site para evitar confusão. Uma ideia testável é uma ideia sobre a qual poderíamos reunir evidência para ajudar a determinar se a ideia é ou não precisa.

  • Incerteza: Na linguagem corrente, a incerteza sugere o estado de se estar inseguro acerca de alguma coisa. Os cientistas, contudo, normalmente usam a palavra quando se referem a medições. A incerteza de uma medida (não confundir com a provisionalidade inerente a todas as ideias científicas!) é a gama de valores dentro da qual o valor real é suscetível de estar. Na ciência, a incerteza não é uma coisa má, é simplesmente um facto da vida. Cada medida tem a sua incerteza. Se você medir o comprimento de uma caneta com uma régua normal, não será capaz de dizer se o seu comprimento é de 14.930 cm, 14.935 cm ou 14.940 cm. Uma régua com maior precisão vai ajudar a diminuir esse intervalo, mas não pode eliminar a incerteza inteiramente. Para saber mais sobre uma ideia relacionada, veja em baixo a nossa discussão sobre erro.

  • Erro: Na linguagem corrente, um erro é simplesmente um erro, mas na ciência, o erro tem um significado estatístico preciso. Um erro é a diferença entre a medição e o valor verdadeiro, resultando muitas vezes de se fazer uma amostragem. Por exemplo, imagine que você quer saber se as plantas de milho produzem grãos maiores quando cultivadas com um novo fertilizante, e assim você pesa espigas de milho dessas plantas. Você calcula a média da massa da sua amostra de 50 espigas de milho. Esta média é uma boa estimativa daquilo em que está realmente interessado: a massa média de todas as espigas de milho que poderiam ser cultivadas com esse fertilizante. A sua estimativa não é um erro — mas tem um erro (no sentido estatístico da palavra) uma vez que a sua estimativa não é o valor verdadeiro. Erro de amostragem do tipo descrito acima é inerente sempre que uma amostra menor é tomada para representar uma entidade maior. Outro tipo de erro resulta de desvios sistemáticos de medição (por exemplo, se a sua escala foi mal calibrada, todas as suas medições estariam desviadas do valor real). O erro sistemático desvia os resultados de medições numa direção específica, e pode ser mais difícil de quantificar do que o erro de amostragem.

  • Previsão: Na linguagem corrente, o termo previsão geralmente refere-se a algo que uma cartomante diz sobre o futuro. Na ciência, o termo previsão geralmente significa "o que seria de esperar que aconteça ou o que seria de esperar que se observe se esta ideia fosse precisa." Às vezes, essas previsões científicas não têm nada a ver com o futuro. Por exemplo, os cientistas levantaram a hipótese de que um grande asteroide atingiu a Terra há 4,5 mil milhões de anos, resultando em fragmentos que formaram a lua. Se esta ideia fosse verdade, nós poderíamos prever que a lua hoje teria uma composição semelhante à da crosta da Terra há 4,5 mil milhões de anos — uma previsão que parece ser precisa. Esta hipótese trata da história profunda de nosso sistema solar e ainda envolve previsões — no sentido científico da palavra. Ironicamente, as previsões científicas muitas vezes têm a ver com os acontecimentos passados. Neste site, tentamos reduzir a confusão, usando as palavras esperar e expetativa em vez de prever e previsão. Para saber mais, visite Prevendo o passado na nossa secção sobre a essência da ciência.

  • Crença/acreditar: Quando nós, na linguagem corrente, dizemos que acreditamos em algo, podemos estar a querer dizer muitas coisas — que apoiamos uma causa, que temos fé numa ideia, ou que achamos que algo é preciso. A palavra crença é frequentemente associada com as ideias sobre as quais temos fortes convicções, independentemente da evidência a favor ou contra elas. Isso pode gerar confusão quando um cientista afirma que "acredita em" uma hipótese científica ou teoria. Na verdade, o cientista provavelmente quer dizer que ele ou ela "aceita" a ideia — por outras palavras, que ele ou ela pensa que a ideia científica é a mais precisa disponível com base numa avaliação crítica da evidência. Ideias científicas devem sempre ser aceites ou rejeitadas com base na evidência a favor ou contra elas — e não com base na fé, dogma, ou convicção pessoal.

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Barreiras à aprendizagem da ciência
Na escola, muitos alunos têm uma impressão errada da ciência. Embora não sejam, estritamente falando, equívocos, as generalizações e opiniões em baixo são quase sempre imprecisas - e podem dificultar a aprendizagem da ciência aos alunos que as têm.

  • EQUÍVOCO: A ciência é aborrecida.

    CORREÇÃO: Memorizar factos de um livro pode ser aborrecido — mas a ciência é muito mais do que o conhecimento que está nos livros escolares. A ciência é um processo contínuo e inacabado de descoberta. Alguns cientistas viajam por todo o mundo para fazer as suas pesquisas. Outros criam experiências que nunca ninguém tentou antes. E todos os cientistas estão empenhados numa missão emocionante — aprender algo novo sobre o mundo natural. Algumas partes da formação ou investigação científica podem ser enfadonhas, mas a ciência em si é emocionante! Para ver como uma perspetiva científica pode tornar o mundo um lugar mais emocionante e intrigante, veja também Pensar cientificamente.

  • EQUÍVOCO: A ciência não é importante na minha vida.

    CORREÇÃO: É fácil pensar que o que os cientistas fazem em laboratórios e estações de campo distantes tem pouca relevância para a sua vida diária — afinal, muitos de nós não lidam regularmente com super aceleradores ou plâncton do ártico — mas olhe de novo ao seu redor. Todas as tecnologias, os avanços médicos, e os conhecimentos que melhoram as nossas vidas todos os dias são em parte o resultado de investigação científica. Além disso, as escolhas que você faz quando vota em eleições e apoia causas particulares podem influenciar o curso da ciência. A ciência está profundamente entrelaçada com as nossas vidas quotidianas. Para ver como a sociedade influencia a ciência, visite Ciência e sociedade. Para saber mais sobre como os avanços científicos afetam a sua vida, visite O que é que a ciência tem feito por si ultimamente?

  • EQUÍVOCO: Não sou bom em ciência.

    CORREÇÃO: Alguns alunos acham que as aulas de ciência são difíceis — mas isso não quer dizer que não sejam bons em ciência. Antes de tudo, a ciência escolar pode ser muito diferente da ciência real. O conhecimento de fundo que se aprende na escola é importante para os cientistas, mas é apenas uma parte da imagem. A investigação científica envolve também a resolução criativa de problemas, comunicar com os outros, raciocínio lógico, e muitas outras habilidades que podem ou não ser uma parte de cada aula de ciências. Em segundo lugar, a ciência abrange um notável e amplo conjunto de atividades. Se calhar você não se importa muito com a tabela periódica — mas isso não significa que você não iria ser ótimo a observar o comportamento de chimpanzés selvagens, a criar modelos computacionais do movimento das placas tectónicas, ou a dar palestras sobre experiências de psicologia em reuniões científicas. Muitas vezes, quando um aluno afirma "não ser bom em ciência", ele realmente apenas quer dizer que ainda não encontrou a parte da ciência que desperta os seus interesses e talentos.


1Ecklund, E.H., and C.P. Scheitle. 2007. Religion among academic scientists: Distinctions, disciplines, and demographics. Social Problems 54(2):289-307.


Salas dos professores
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Corrigindo equívocos


Equívocos acerca de ensinar


Investigação em educação


Brevemente!

pontos chave
  • Infelizmente, muitos livros escolares disseminam equívocos sobre a natureza e o processo da ciência. Use esta lista para rever o seu livro, e, em seguida, discutir eventuais distorções com os alunos.

  • Você pode realçar equívocos sobre ciência que são disseminados nos meios de comunicação social iniciando um painel informativo (físico ou eletrónico), que destaque exemplos de equívocos encontrados na imprensa — por exemplo, maus usos da palavra teoria, implicações que os cientistas usam sempre "o método científico", ou que a ciência experimental é mais rigorosa do que a ciência não-experimental.

  • Use listas de palavras para combater equívocos sobre ciência que decorrem de confusões de vocabulário. Saiba como neste artigo distribuído com a permissão de Science Scope.


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